Famílias alugam quartos em casa para complementar renda
Quando Wladmir Guimarães perdeu o emprego, há cerca de 10 anos, sabia que seria difícil se recolocar no mercado. “Eu tinha acabado chegar aos 40, não conseguia encontrar nada novo”, conta. Foi então que alugou, pela primeira vez, um quarto em seu apartamento, em Higienópolis, onde ainda vive com a mulher e uma filha.
A localização do imóvel lhe era favorável. Nos arredores estão instituições como FAAP, Mackenzie e PUC, que recebem milhares de alunos todos os anos. Muitos deles vêm de fora e acabam buscando moradias próximas à universidade.
Hoje, o economista de formação aluga quatro quartos, cujos preços variam de R$ 900 a R$ 1.100, a depender do tamanho. Segundo ele, a convivência com os jovens é boa. “Como é para um quarto, não há muita rotatividade. Alguns ficam com a gente a graduação inteira.”
Guimarães costuma divulgar as vagas em grupos de Facebook e nos murais das faculdades. Não exige contrato, apenas que o aluguel seja pago sempre com um mês de antecedência. Caso o aluno queira ir embora, basta avisá-lo previamente.
Embora nesses casos a relação entre dono e inquilino se torne muito próxima, é aconselhável firmar algum tipo de acordo formal, sugere a advogada Daniele Akamine. Assim, o pro- prietário se protege de eventuais danos. Também é recomendável fazer uma entrevista prévia, para verificar se o estilo de vida do estudante se encaixa ao da família.
O contrário também acontece: a estudante de Letras Heloisa Vilela, de 21 anos, buscava um local próximo à USP, mas não estava disposta a viver em repúblicas. “Eu tinha muito receio de ter problemas com meus colegas, principalmente com limpeza, porque sou muito organizada”, diz. A universitária paga R$ 600 por um quarto individual no Butantã.
Como os pais vivem em Santo André, no ABC paulista, e ela estuda à noite, problemas com a volta para casa eram comuns. “Já quase perdi o último trem. Uma vez, ele quebrou no meio do trajeto e tive que voltar de táxi, depois da meia noite.”
Heloisa também não assinou contrato, mas porque já conhe- cia previamente a família com a qual foi viver.
Permitido. Com o proprietário dentro do imóvel, é improvável que a locação parcial possa ser questionada pela convenção do condomínio, afirma a advogada Daniela Cozzo.
Ela lembra que o negócio não pode configurar hospedagem, mas que a linha, nesse caso, fica mais tênue. O motivo é que a limpeza do imóvel, por exemplo, costuma ser feita pelos donos ou por funcionários contratados, como faz Guimarães em seu apartamento.