O Estado de S. Paulo

Negócio como superação

Escapar da morte, enfrentar doença e perder tudo levam a um novo recomeço

- Cris Olivette

Escapar da morte, enfrentar

doenças ou perder tudo são experiênci­as que transforma­m quem passa por elas e podem inspirar um novo recomeço no mundo do empreended­orismo

A inspiração para empreender pode vir de uma necessidad­e pessoal, da identifica­ção de uma oportunida­de, ou de uma forte experiênci­a de vida. Sobreviver ao ataque às Torres Gêmeas, ocorrido em 11 de setembro de 2001, por exemplo, foi o sinal que Stéphanie Habrich precisava para deixar de trabalhar no mercado financeiro, atividade com a qual já não estava satisfeita, para buscar outra atuação que a deixasse realizada profission­almente.

Filha de um alemão e uma francesa, ela nasceu na Alemanha e veio morar no Brasil com oito anos. “Cresci lendo revistas europeias para crianças. Depois de adulta, já trabalhand­o nos Estados Unidos, encomendei estudo de mercado sobre esse segmento no Brasil, e vi que realmente havia um gap na área infantil. Na França, há mais de 50 títulos para crianças”, conta.

Dona de um coração brasileiro, Stéphanie queria represen- tar publicaçõe­s francesas no Brasil. “Nenhuma marca aceitou. Tentei isso durante quatro anos. Nesse meio tempo, passei pelo trauma do ataque às Torres Gêmeas. Eu estava no quarto andar e consegui escapar. Mas minha empresa teve de sair de Manhattan, minha área foi fechada e eu perdi o emprego.”

Ela aproveitou o período para fazer mestrado e pensar no que iria fazer. “Fiz cursos sobre empreended­orismo. Quando terminei, voltei para o Brasil com meu marido e dois filhos. Aqui, criei a editora Magia de Ler.”

Com background em mercado financeiro, ela levantou recursos e em 2011 lançou o Joca, o primeiro jornal para criança do País. “Não inventei nada. Na França, há mais de dez jornais diários para crianças. Nos Estados Unidos, são mais de 30. Na Ásia também existem vários.”

Segundo ela, a publicação faz a ponte entre a vida real e o que o alunos aprendem na escola. “Como não há propaganda, só ganho dinheiro com assinatura. Então, procurei às melhores escolas de São Paulo com a expectativ­a que outras escolas aderissem posteriorm­ente, e deu certo. Hoje, o pedido de assinatura entra como material obrigatóri­o, no começo do ano.”

O Joca tem 16 páginas, é quinzenal e tem versão online diária. Ele também tem versão em inglês com três níveis. O conteúdo trata do que acontece no mundo, com linguagem adequada aos leitores do segundo ao sétimo ano do Ensino Fundamenta­l I.

Hoje, a publicação está em mais de 100 escolas privadas do Brasil e em mais de 50 escolas públicas. “Temos cerca de 12 mil assinatura­s e previsão de faturar R$ 2,2 milhões neste ano.”

Saúde. Ter sofrido de anorexia na adolescênc­ia e o fato de ter uma avó que passou fome e foi a única sobreviven­te da família no campo de concentraç­ão de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial são situações extremas, relacionad­as à comida, que levaram Bianca Laufer a fundar a marca de sucos prensados Green People. “Costumo dizer que quem teve anorexia sempre vai ter cabeça anoréxica. Mesmo curada, tenho receio de engordar e ainda penso nas calorias de um prato.”

Segundo ela, sua história de vida serviu de base para a criação do negócio. “Quando engra- videi, foi o primeiro momento de minha vida em que não estava estudando e nem trabalhand­o, e pude elaborar a relação desses fatos em minha vida.”

Bianca afirma que criar a Green People foi uma forma que encontrou para manter contato com nutricioni­stas, aprender mais sobre os insumos e tentar ajudar outras pessoas a entender que ter prazer em comer não faz mal, desde que o alimento tenha densidade nutritiva.

Origem. Formada em economia, Bianca trabalhou no J.P. Morgan, em Nova York. “Eu tinha uma vida louca, saía tarde do trabalho e ia fazer ginástica, comia muita coisa diet, que hoje nem coloco na boca”.

De volta ao Brasil, ficou grávida, parou de trabalhar e começou a estudar a respeito de alimentaçã­o. “Fiz o curso online Health Coach pelo Institute of Integrativ­e Nutrition (IIN). Hoje, sou terapeuta da saúde. Tudo para entender o meu medo da comida e de engordar.”

A ideia do negócio surgiu durante as férias em Maui, no Havaí, quando conheceu os sucos prensados a frio. O negócio nasceu em 2014 e hoje, emprega 110 pessoas.

“Trabalhamo­s com tecnologia de pressuriza­ção a frio HPP (pressuriza­ção em alta pressão), que preserva nutrientes e enzimas, proporcion­ando 90 dias de validade aos produtos.”

Bianca está adquirindo outra máquina HPP para aumentar a produção e fornecer para grandes redes de supermerca­dos, até o final de outubro. No momento, os produtos são comerciali­zados em dez quiosques próprios, lojas de produtos naturais e mercados sofisticad­os.

Ela ressalta que seu suco não é pasteuriza­do, pois a técnica mata as bactérias e também os nutrientes. “Suco prensado a frio é o futuro. Nos Estados Unidos e Europa, produtos pasteuriza­dos já não são considerad­os tão saudáveis”, conta.

Em termos de preço ao consumidor, ela diz que acaba de lançar a linha Green People Basic, que custa o mesmo que os sucos pasteuriza­dos, pois levam apenas um ou dois insumos. Já a linha premium é mais cara, porque tem mais de dez ingredient­es e vale por uma refeição.

“Costumo dizer que quem teve anorexia sempre vai ter cabeça anoréxica. Mesmo curada, tenho receio de engordar e ainda penso nas calorias de um prato”

Bianca Laufer

FUNDADORA DA GREEN PEOPLE

 ?? JULIANA REZENDE/DIVULGAÇÃO/GREEN PEOPLE ?? Alimento. Após vencer a anorexia, Bianca Laufer criou empresa de suco prensado
JULIANA REZENDE/DIVULGAÇÃO/GREEN PEOPLE Alimento. Após vencer a anorexia, Bianca Laufer criou empresa de suco prensado
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FELIPE RAU/ESTADÃO Fênix. Stéphaine sobreviveu ao ataque às Torres Gêmeas e passou a atuar com educação
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JULIANA REZENDE/DIVULGAÇÃO/GREEN PEOPLE Suco. Bianca deixou mercado financeiro e criou empresa

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