Negócio como superação
Escapar da morte, enfrentar doença e perder tudo levam a um novo recomeço
Escapar da morte, enfrentar
doenças ou perder tudo são experiências que transformam quem passa por elas e podem inspirar um novo recomeço no mundo do empreendedorismo
A inspiração para empreender pode vir de uma necessidade pessoal, da identificação de uma oportunidade, ou de uma forte experiência de vida. Sobreviver ao ataque às Torres Gêmeas, ocorrido em 11 de setembro de 2001, por exemplo, foi o sinal que Stéphanie Habrich precisava para deixar de trabalhar no mercado financeiro, atividade com a qual já não estava satisfeita, para buscar outra atuação que a deixasse realizada profissionalmente.
Filha de um alemão e uma francesa, ela nasceu na Alemanha e veio morar no Brasil com oito anos. “Cresci lendo revistas europeias para crianças. Depois de adulta, já trabalhando nos Estados Unidos, encomendei estudo de mercado sobre esse segmento no Brasil, e vi que realmente havia um gap na área infantil. Na França, há mais de 50 títulos para crianças”, conta.
Dona de um coração brasileiro, Stéphanie queria represen- tar publicações francesas no Brasil. “Nenhuma marca aceitou. Tentei isso durante quatro anos. Nesse meio tempo, passei pelo trauma do ataque às Torres Gêmeas. Eu estava no quarto andar e consegui escapar. Mas minha empresa teve de sair de Manhattan, minha área foi fechada e eu perdi o emprego.”
Ela aproveitou o período para fazer mestrado e pensar no que iria fazer. “Fiz cursos sobre empreendedorismo. Quando terminei, voltei para o Brasil com meu marido e dois filhos. Aqui, criei a editora Magia de Ler.”
Com background em mercado financeiro, ela levantou recursos e em 2011 lançou o Joca, o primeiro jornal para criança do País. “Não inventei nada. Na França, há mais de dez jornais diários para crianças. Nos Estados Unidos, são mais de 30. Na Ásia também existem vários.”
Segundo ela, a publicação faz a ponte entre a vida real e o que o alunos aprendem na escola. “Como não há propaganda, só ganho dinheiro com assinatura. Então, procurei às melhores escolas de São Paulo com a expectativa que outras escolas aderissem posteriormente, e deu certo. Hoje, o pedido de assinatura entra como material obrigatório, no começo do ano.”
O Joca tem 16 páginas, é quinzenal e tem versão online diária. Ele também tem versão em inglês com três níveis. O conteúdo trata do que acontece no mundo, com linguagem adequada aos leitores do segundo ao sétimo ano do Ensino Fundamental I.
Hoje, a publicação está em mais de 100 escolas privadas do Brasil e em mais de 50 escolas públicas. “Temos cerca de 12 mil assinaturas e previsão de faturar R$ 2,2 milhões neste ano.”
Saúde. Ter sofrido de anorexia na adolescência e o fato de ter uma avó que passou fome e foi a única sobrevivente da família no campo de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial são situações extremas, relacionadas à comida, que levaram Bianca Laufer a fundar a marca de sucos prensados Green People. “Costumo dizer que quem teve anorexia sempre vai ter cabeça anoréxica. Mesmo curada, tenho receio de engordar e ainda penso nas calorias de um prato.”
Segundo ela, sua história de vida serviu de base para a criação do negócio. “Quando engra- videi, foi o primeiro momento de minha vida em que não estava estudando e nem trabalhando, e pude elaborar a relação desses fatos em minha vida.”
Bianca afirma que criar a Green People foi uma forma que encontrou para manter contato com nutricionistas, aprender mais sobre os insumos e tentar ajudar outras pessoas a entender que ter prazer em comer não faz mal, desde que o alimento tenha densidade nutritiva.
Origem. Formada em economia, Bianca trabalhou no J.P. Morgan, em Nova York. “Eu tinha uma vida louca, saía tarde do trabalho e ia fazer ginástica, comia muita coisa diet, que hoje nem coloco na boca”.
De volta ao Brasil, ficou grávida, parou de trabalhar e começou a estudar a respeito de alimentação. “Fiz o curso online Health Coach pelo Institute of Integrative Nutrition (IIN). Hoje, sou terapeuta da saúde. Tudo para entender o meu medo da comida e de engordar.”
A ideia do negócio surgiu durante as férias em Maui, no Havaí, quando conheceu os sucos prensados a frio. O negócio nasceu em 2014 e hoje, emprega 110 pessoas.
“Trabalhamos com tecnologia de pressurização a frio HPP (pressurização em alta pressão), que preserva nutrientes e enzimas, proporcionando 90 dias de validade aos produtos.”
Bianca está adquirindo outra máquina HPP para aumentar a produção e fornecer para grandes redes de supermercados, até o final de outubro. No momento, os produtos são comercializados em dez quiosques próprios, lojas de produtos naturais e mercados sofisticados.
Ela ressalta que seu suco não é pasteurizado, pois a técnica mata as bactérias e também os nutrientes. “Suco prensado a frio é o futuro. Nos Estados Unidos e Europa, produtos pasteurizados já não são considerados tão saudáveis”, conta.
Em termos de preço ao consumidor, ela diz que acaba de lançar a linha Green People Basic, que custa o mesmo que os sucos pasteurizados, pois levam apenas um ou dois insumos. Já a linha premium é mais cara, porque tem mais de dez ingredientes e vale por uma refeição.
“Costumo dizer que quem teve anorexia sempre vai ter cabeça anoréxica. Mesmo curada, tenho receio de engordar e ainda penso nas calorias de um prato”
Bianca Laufer
FUNDADORA DA GREEN PEOPLE