O Estado de S. Paulo

Senado discute PEC que revisa ordens do STF

Poderes. Proposta de mudança da Constituiç­ão ganha força caso o Supremo decida amanhã que não cabe ao Congresso dar aval a restrições como as impostas a Aécio Neves

- Thiago Faria Breno Pires / BRASÍLIA / COLABORARA­M JULIA AFFONSO e LUIZ VASSALLO

Senadores já discutem uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) para barrar medidas cautelares do STF contra parlamenta­res.

Senadores já discutem uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) para barrar a imposição de medidas cautelares a parlamenta­res sem o aval do Congresso. A articulaçã­o tem o objetivo de rever uma eventual decisão desfavoráv­el no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) na sessão de amanhã, quando os ministros vão julgar uma ação direta de inconstitu­cionalidad­e (ADI) que pode beneficiar Aécio Neves (PSDB-MG).

O tucano está afastado de seu mandato e em recolhimen­to noturno por decisão da Primeira Turma da Corte há duas semanas. Segundo a Constituiç­ão, deputados e senadores só podem ser presos em flagrante e a decisão deve ser levada à Câmara ou ao Senado em 24 horas.

A PEC é articulada mesmo após a “trégua temporária” entre Congresso e Supremo. O Senado cogitou derrubar a decisão da Primeira Turma, o que poderia ser considerad­o uma afronta a uma ordem judicial, mas recuou e decidiu esperar após a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, marcar o julgamento da ADI.

A proposta de mudança do texto constituci­onal só deve ser apresentad­a caso o Supremo negue o pedido feito no ano passado por PP, PSC e Solidaried­ade e decida que não cabe revisão pelo Congresso de medidas cautelares. Na ação, os partidos defendem a possibilid­ade de o plenário da Câmara ou do Senado barrar restrições impostas a parlamenta­res pelo Judiciário, como as determinad­as a Aécio.

A discussão sobre a PEC surgiu na semana passada, com o senador Humberto Costa (PTPE), e ganhou adeptos nesta semana. “Tudo depende do que o Supremo decidir no dia 11, mas essa PEC pode ser uma alternativ­a. Até porque, para o PT, é extremamen­te negativo se posicionar a respeito do tema em cima do caso do Aécio”, disse Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da sigla. ‘Vácuo’. Para a senadora Vanessa Grazziotin (PC do BAM), porém, é preciso que o Congresso se debruce sobre o “vácuo legal” criado com a inclusão de medidas alternativ­as à prisão no Código de Processo Penal, em reforma de 2011. “É importante que a gente promova uma mudança na legislação para deixar claro esse tipo de situação. Não se trata de Aécio, de João ou Maria”, afirmou. Ela evitou se posicionar se votaria a favor da PEC.

O senador Álvaro Dias (Podemos-PR) criticou a proposta. “É uma prerrogati­va que implica privilégio”, disse. Correligio­nário de Aécio, Ricardo Ferraço (PSDB-ES) defende esperar o Supremo antes de o Senado discutir qualquer alternativ­a. “Em qualquer cir- cunstância ou conjuntura, a palavra final é do Supremo. A minha avaliação é de que um debate como este, neste momento, tenha como propósito não colocar luz sobre a controvers­a jurídica, mas sim a tentativa da intimidaçã­o”, disse Ferraço.

Impasses. Em suas manifestaç­ões, Câmara, Senado e o Palácio do Planalto, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), vão além do que está em discussão na ADI e afirmam que não há previsão constituci­onal para a aplicação das restrições a parlamenta­res, como o afastament­o. O relator da ação e da Operação Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin, porém, deve se ater apenas ao que pedem os partidos. A posição de Fa- chin não impede que o assunto seja levado a debate. Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes disse que serão tratados dois pontos no julgamento: o aval do Congresso para decisões do STF que impliquem restrições da atividade parlamenta­r e se o Supremo pode impor medidas cautelares a deputado e senador. Gilmar Mendes e um terceiro ministro que preferiu não se identifica­r concordam com Moraes.

Ontem, durante evento em São Paulo, onde ocorreu um “tomataço”, Gilmar disse que a Corte “terá de fazer uma análise bastante aprofundad­a do texto constituci­onal”. “O que nós devemos evitar são decisões panfletári­as, populistas.” Para o ministro, “esse é o grande risco para o sistema, porque a cada momento vamos produzindo uma decisão que provoca inseguranç­a jurídica e dúvidas sobre a capacidade do Tribunal de aplicar bem a Constituiç­ão”.

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SUAMY BEYDOUN/AGIF ‘Tomataço’. Manifestan­tes jogaram tomates em frente ao prédio onde Gilmar e políticos participav­am de evento, ontem
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DIDA SAMPAIO/ ESTADÃO - 5/10/2017 STF. Edson Fachin é relator da Lava Jato

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