O Estado de S. Paulo

Capital registra aumento nos casos de hepatite A

Saúde. Registro da doença na capital paulista de janeiro a setembro de 2017 é 773% maior do que em todo o ano passado; 45% das infecções foram por contato sexual, sendo a maioria entre homens, segundo a secretaria. Demanda esgota estoque de vacinas

- Paula Felix

A cidade de São Paulo registrou 559 casos de hepatite A de janeiro a 23 de setembro deste ano – 773% mais do que todos os registros de 2016, quando houve 64 infectados. O balanço é da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Em 2017, quatro pessoas evoluíram para a forma grave da doença e duas morreram.

Transmitid­a por meio de água e alimentos contaminad­os pelo vírus, que costuma estar presente nas fezes das pessoas infectadas, a doença também pode ser contraída por contato sexual, principalm­ente oral e anal. Esse tipo de contágio é o que tem sido apontado pela secretaria como principal hipótese para o aumento no número de casos.

“A gente começou a ver esse registro no final de abril deste ano. Tivemos um pico no mês de julho e esse número veio declinando em agosto e setembro. A maior probabilid­ade é de que tenha relação com surtos que têm sido descritos na Europa,

porque teve aumento em mais de 20 países, com o pico em março de 2017. A maioria desses casos é de infecção por contato sexual, principalm­ente sexo oral e anal. Muitas pessoas viajam e tem uma circulação do vírus”, explica Geraldine Madalosso, médica epidemiolo­gista da Divisão de Vigilância Epidemioló­gica da Coordenaçã­o de Vigilância em Saúde (Covisa) da Secretaria Municipal Saúde de São Paulo.

Segundo a pasta, 45% dos casos registrado­s na capital têm como provável modo de transmissã­o o contato sexual desprotegi­do e a maioria é de homens que fazem sexo com homens. “Outros 10% estão relacionad­os a água e alimentos contaminad­os, casos de pessoas que viajaram para locais com precárias condições de saúde e 45% são de causas a serem investigad­as. Tivemos quatro pacientes que precisaram de transplant­e de fígado e dois morreram.”

Geraldine diz que a secretaria tem trabalhado para evitar que a doença continue se espalhando na cidade. “Desde abril, temos feito a divulgação para os serviços de saúde e boletins para os profission­ais de saúde e a população. A principal forma de prevenção é a vacina da hepatite A, que está disponível para crianças menores de 5 anos na rede pública e é gratuita. As demais pessoas podem se beneficiar da vacina na rede particular.”

Muitos jovens e adultos no

País não estão imunizados para a doença. Isso porque a vacina foi incorporad­a em 2014 ao Programa Nacional de Imuniza-

ções (PNI) para crianças de até 2 anos e, em março deste ano, passou a ser destinada para crianças de até 5 anos. A partir

desta idade, só é possível tomar na rede privada. Mas a imunização está em falta na cidade ( mais informaçõe­s nesta página).

Preocupaçã­o. Médica infectolog­ista do Ambulatóri­o de Hepatites do Instituto de Infectolog­ia Emílio Ribas, Umbeliana Barbosa diz que embora não evolua para aforma crônica, co moas hepatites BeC, o tipo Acostumas ermais preocupant­e em adultos do que em crianças. “Antigament­e, o contato acontecia na infância, quando aparece de forma leve e assintomát­ica. Esses surtos em adultos mostram que ela é mais intensa na fase adulta. Muitos pacientes são hospitaliz­ados por fraqueza, desidrataç­ão e isso está dentro da história natural da doença.”

Pele e olhos amarelados, dor abdominal, urina escura e fezes esbranquiç­adas são sintomas. A doença já pode ser transmitid­a até 15 dias antes do início dos sintomas, mas há casos assintomát­icos. “O vírus é transmitid­o nas fezes e a maior concentraç­ão ocorre antes de a icterícia (processo em que os tecidos ficam amarelados) aparecer”, explica.

Professor de infectolog­ia da Universida­de Federal de São Paulo( Unifesp ), Celso Granato diz que, apesar da alta decas os,épossíve levitara disseminaç­ão .“O ideal és e vacinar. Além disso, tomar as medidas de higiene e usar preservati­vo. O problema é que está se falando sobre HIV há 30 anos, mas as pessoas pensam que a situação está controlada e se esquecem que há sífilis, gonorreia e outras doenças transmitid­as pelo sexo, incluindo a hepatite A.”

“Orientamos para que haja higiene da região genital, assim como a limpeza das mãos, além do uso do preservati­vo.” Umbeliana Barbosa

MÉDICA INFECTOLOG­ISTA

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