O Estado de S. Paulo

Maia promete retaliar governo na Câmara.

Deputado do DEM e presidente da Casa tenta manter distância do Planalto e diz que não vai colocar para votar nenhuma medida provisória

- Isadora Peron Fabrício de Castro Vera Rosa / BRASÍLIA / COLABORARA­M TÂNIA MONTEIRO E ADRIANA FERNANDES

Em um novo capítulo de embate com o governo Michel Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou ontem que não vai colocar em votação mais nenhuma medida provisória enviada pelo Palácio do Planalto. O episódio tem como pano de fundo as movimentaç­ões do parlamenta­r para guardar distância regulament­ar da impopulari­dade do presidente.

Maia não esconde a irritação com as idas e vindas do Planalto e tenta mostrar marca própria como presidente da Câmara, às vésperas da votação da segunda denúncia contra Temer.

O Planalto evitou entrar na polêmica ontem com o presidente da Câmara. No palácio, a avaliação é de que, nestes momentos, Maia tem tentado se preservar e mostrar sua independên­cia. Para auxiliares do presidente, não há motivo para um novo desgaste.

O presidente da Câmara fez a declaração sobre as MPs ao encerrar a sessão ontem à tarde e impor uma derrota ao governo por não votar a MP 784, que tratava da leniência do Banco Central. Segundo ele, a medida não voltará à pauta da Casa até que seja analisada a proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) que regulament­a a tramitação desse tipo de matéria no Congresso Nacional.

Meta fiscal. Maia criticou ainda o fato de o Planalto não ter enviado até agora ao Congresso o pacote de medidas para cumprir a meta fiscal de 2018, o que deve acontecer somente após a votação da segunda denúncia no plenário da Casa. E ainda ironizou: “Daqui a pouco vai querer encaminhar ajuste fiscal por MP, por falta de prazo”.

Durante toda a tarde de ontem, o presidente da Câmara insistiu para que o plenário votasse a MP e ignorou os apelos de líderes da base para que a sessão fosse encerrada para que a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) pudesse votar o parecer apresentad­o sobre a segunda denúncia contra o presidente e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a) por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça. Pelo regimento interno, uma comissão não pode realizar uma votação se uma sessão plenária estiver em curso.

Ao anunciar que não colocaria mais a MP em votação, Maia criticou a base e disse que a falta de empenho do governo em aprovar a matéria era um desrespeit­o ao presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. “É uma pena ver os esforços do presidente do Banco Central sendo jogados no lixo.”

MP 784. Além de tratar do acordo de leniência – espécie de colaboraçã­o premiada para empresas – a MP 784 estabelece novas regras de punição a instituiçõ­es financeira­s e instituiçõ­es do mercado de capitais, reguladas pelo BC e pela Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM).

Quando foi editada, no início de junho, a MP foi alvo de duras críticas do Ministério Público Federal, que viu na proposta o risco de cerceament­o do trabalho do órgão. Após meses de discussões entre BC e MPF, o texto foi alterado e aprovado em comissão mista do Congresso.

Para fontes da área econômica ouvidas pelo Estadão/Broadcast, as críticas do presidente da Câmara ao envio de propostas de ajuste fiscais por meio de medidas provisória­s aumentam as incertezas em relação ao Orçamento de 2018.

Devolução. O presidente da Câmara também enviou recado ao Planalto. “Se o governo não teve interesse de votar, é porque não tinha urgência para o Executivo”, afirmou. “As próximas MPs editadas, se não tiverem relevância e urgência, serão devolvidas ao governo quando chegarem à Câmara.”

Desde que chegou à Presidênci­a, em maio do ano passado, Temer já editou 79 medidas provisória­s. Os governos costumam lançar mão desse instrument­o porque as MPs tramitam mais rapidament­e já que trancam a pauta do Congresso.

“O governo está fazendo tudo errado. Tem de parar de editar MPs, e já falei isso com o Michel algumas vezes”, disse o presidente da Câmara ao Estado. Questionad­o se a relação entre seu partido, o DEM, e o PMDB de Temer estava pacificada, Maia respondeu: “Não, mas isso não é relevante agora”.

Para um aliado, Maia – primeiro na linha sucessória caso Temer seja afastado – aproveitou o momento para demonstrar a sua insatisfaç­ão com a maneira com que ele vem sendo tratado pelo governo e, ao mesmo tempo, fazer um aceno a parlamenta­res que cobram uma posição de distanciam­ento do Planalto.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Plenário. Rodrigo Maia comanda Mesa Diretora em sessão na Câmara dos Deputados

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