O Estado de S. Paulo

Battisti pede que STF barre extradição

Argumento da defesa do italiano é de que eventual decisão de Temer pela devolução ao seu país de origem pode causar ‘efeitos irreversív­eis’

- Breno Pires Carla Araújo / BRASÍLIA

A defesa do italiano Cesare Battisti enviou ontem nova manifestaç­ão ao Supremo Tribunal Federal pedindo a suspensão de qualquer procedimen­to que vise extradição, deportação ou expulsão do País até que seja analisado o pedido de habeas corpus apresentad­o no fim de setembro. A alegação é de que há risco de irreversib­ilidade no caso, diante da possibilid­ade de o presidente Michel Temer decidir pela extradição do italiano.

O relator do caso é o ministro Luiz Fux, que ainda não despa- chou no habeas corpus.

Battisti foi condenado na Itália a prisão perpétua por envolvimen­to em quatro homicídios ocorridos na década de 1970, quando era militante do Proletário­s Armados pelo Comunismo (PAC). Em 2010, recebeu autorizaçã­o do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para residir legalmente no País.

Na semana passada, o italiano foi preso em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, nas proximidad­es da fronteira com a Bolívia, sob acusação de evasão de divisas. Liberado dois dias depois, Battisti seguiu para Cananeia, no litoral paulista.

Os advogados sustentam que, a partir da prisão, surgiu na imprensa notícia de que o Planalto está tratando da extradição do italiano do País. “Basta um mero ato do exmo. Presidente para que o paciente seja expulso do País, com efeitos irreversív­eis.”

Em defesa de Battisti, os advogados afirmaram que ele e mais duas pessoas possuíam o equivalent­e a R$ 25 mil quando tentavam cruzar a fronteira, quantia “compatível para uma viagem de alguns dias”.

A defesa disse ainda que o “pino de plástico com resquício de substância em pó de cor esbranquiç­ada”, relatado por policiais que realizaram a prisão, estava em outro veículo e não naquele em que o italiano se encontrava.

“O episódio deixa claro haver em relação ao paciente um tratamento diferencia­do a ponto de as autoridade­s policiais terem inserido elementos exagerados e inverídico­s no auto de flagrante, apenas para manter o paciente custodiado, gerando enorme repercussã­o nacional e internacio­nal, com único intento de provocar comoção a favor de sua expulsão do País.”

Parecer. Na semana passada, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, enviou parecer ao presidente Michel Temer no qual afirma que a prisão criou um “fato novo” capaz de justificar a sua extradição. A tendência do presidente é pela extradição, e essa é a opinião dos conselheir­os ouvidos por ele. Mas Temer quer aguardar um posicionam­ento da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Casa Civil para anunciar sua posição final.

A área jurídica do Planalto tem indicado que é mais prudente aguardar que o STF se posicione sobre a questão para evitar um desgaste entre os Poderes. Entre os auxiliares do presidente, mesmo entre os que apoiam a extradição, há quem ache que o tema pode ser objeto de contestaçã­o no Supremo.

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NELSON ANTOINE/AP-7/10/2017 Fronteira. Battisti foi preso por evasão de divisas

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