O Estado de S. Paulo

Separatist­as se dividem após discurso

Quando Puigdemont declarou a independên­cia da Catalunha, houve lágrimas e abraços, mas muitos se decepciona­ram

- BARCELONA

Em meio à multidão que escutava o líder catalão, Carles Puigdemont, em Barcelona, muitos não esconderam a decepção pela falta de uma declaração de secessão mais firme. Em outras áreas da capital catalã, o discurso solene no Parlamento não ge- rou mais do que desdém, mostrando a profunda divisão dos catalães.

Assim como milhares de pessoas na Rua Lluís Companys, próximo do Parlamento, Mercé Hernández escutava sem perder um detalhe em um telão. Quando Puigdemont falou de independên­cia, Hernández soltou lágrimas de emoção. Ao seu redor, em meio à maré de bandeiras independen­tistas, desataram ovações e abraços.

Perto dali, Pere e Antonia Valldeneu se abraçaram emocionado­s. Mas, ao terminar o discurso, após Puigdemont pedir a sus- pensão dos efeitos da declaração para começar um diálogo com Madri, a confusão tomou conta do casal sexagenári­o.

“No fundo, estamos felizes, mas esperávamo­s mais”, disse Pere, lamentando que provavelme­nte o governo em Madri “não vai deixar” as intenções das autoridade­s separatist­as da Catalunha avançarem. “Eu teria sido muito mais firme”, avaliou Gemma Faura, uma enfermeira de 32 anos, próxima de onde a multidão havia gritado em coro por independên­cia.

Assim que Puigdemont acabou de falar, a rua começou a esvaziar. Os que permanecer­am aplaudiram as palavras de Anna Gabriel, deputada do partido de extrema esquerda radi- cal CUP, uma das líderes para quem Puigdemont “perdeu uma ocasião” de proclamar uma república catalã.

Segundo a CUP, Puigdemont decidiu no último momento – seu pronunciam­ento foi adiado por uma hora – não proclamar uma independên­cia dura. Desde o plebiscito, ele sofreu pressão dos catalães. Parte pedia uma ruptura imediata com Madri e outra parcela queria continuar sendo espanhola.

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IVAN ALVARADO/REUTERS Na rua. Multidão acompanha discurso fora do Parlamento

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