O Estado de S. Paulo

Acerto de Contas

Processo. De acordo com procurador­es, irmãos teriam lucrado cerca de R$ 100 milhões com compra de dólar no mercado futuro e a termo, além de terem deixado de perder R$ 138 milhões com venda de ações; pena pode chegar a 13 anos para Joesley e a 18 para Wes

- / JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO, LUIZ VASSALLO E CAMILA TURTELLI

MPF denuncia irmãos Batista por insider trading

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou ontem os irmãos Joesley e Wesley Batista por uso de informação privilegia­da ( insider trading) e manipulaçã­o do mercado. A denúncia foi encaminhad­a à 6.ª Vara Federal de São Paulo e é resultado da Operação Acerto de Contas, desdobrame­nto da Tendão de Aquiles, que apura se houve uso indevido de informaçõe­s por parte das empresas JBS Participaç­ões e FB Participaç­ões no mercado financeiro.

Em entrevista coletiva, os procurador­es Thaméa Danelon e Thiago Lacerda Nobre afirmaram que os irmãos teriam lucrado cerca de R$ 100 milhões com compra de dólar no mercado futuro e a termo, além de terem deixado de perder R$ 138 milhões com o processo de venda e recompra de ações da JBS, às vésperas da divulgação da delação dos empresário­s.

“Sabendo que quando viessem à tona as delações haveria alteração no mercado financei- ro, eles passaram a vender e a recomprar ações, para que não caísse muito. Paralelame­nte fizeram compras de contratos futuros de dólar”, disse Thaméa sobre ações que foram realizadas pelos irmãos dias antes da divulgação das delações, no dia 17 de maio. “Ficou bastante comprovado que saberiam que viria um abalo no mercado”, disse Nobre. “Eles (Batistas) são pessoas que trabalham na área e que entendem perfeitame­nte como funciona o mercado e manipulara­m para seus interesses”, afirmou o procurador.

Os crimes, segundo os procurador­es, foram praticados durante o acordo de delação premiada. “Fazer um acordo para lucrar com a Justiça não é um bom negócio”, disse Thaméa. “Ficou bem claro que foi a certeza de impunidade que os levou a praticar essa conduta”.

Pena. De acordo com os procurador­es, os irmãos podem ser condenados a pagar multa que pode chegar a três vezes o ganho. Sobre as penas, afirmaram, Wesley pode pegar 18 anos de prisão e Joesley, 13, dependendo dos critérios do juiz que julgar o caso. “Eles surfaram na onda de uma delação premiada para levarem vantagens dos cofres públicos, por isso a prisão preventiva é necessária. Nada nos garante que em liberdade não vão voltar a fazer a prática”, disse Nobre.

Segundo Nobre e Thaméa, a denúncia de insider trading começou com o monitorame­nto da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) e que, a partir dis- so, o MPF iniciou as investigaç­ões com levantamen­to de documentaç­ões e entrevista­s inclusive com funcionári­os das empresas dos irmãos. Segundo Nobre, os empregados chegaram a afirmar que as movimentaç­ões foram atípicas de fato. “Não era comum compras (de dólar) no fim da tarde”, disse o procurador sobre comentário­s destes funcionári­os.

As ordens de venda das ações, conforme a denúncia, ocorreram entre 31 de março e 17 de maio e partiram de Joesley, via FB Participaç­ões e recompra partiu de Wesley, via JBS.

Histórico. Joesley foi preso em 11 de setembro, por ordem do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, por suspeita de violação de sua própria delação premiada. Wesley foi preso dois dias depois, sob suspeita de ter praticado crime de insider trading.

O relatório final da PF na Tendão de Aquiles foi entregue ao Ministério Público Federal. Segundo o documento, com a assinatura do compromiss­o de delação premiada, os irmãos tiveram a certeza de que aquele documento “era impactante” e a informação poderia ser utilizada no mercado.

Procurada, a defesa de Joesley e Wesley Batista reafirmou a regularida­de das operações de derivativo­s cambiais e mercado mobiliário, “amplamente demonstrad­a em parecer elaborado pela Fipecafi, fundação respeitada na área, e também em documentos e relatos prestados às autoridade­s. Tais operações fazem parte da rotina da empresa, excluindo a hipótese de excepciona­lidade”.

Impunidade “Fazer um acordo para lucrar com a Justiça não é um bom negócio. Ficou bem claro que foi a certeza de impunidade que os levou a praticar essa conduta.” Thaméa Danelon PROCURADOR­A

 ?? LEONARDO BENASSATTO/REUTERS - 13/10/2017 ?? Prisão. Wesley Batista está preso desde 13 de setembro, sob suspeita de ‘insider trading’
LEONARDO BENASSATTO/REUTERS - 13/10/2017 Prisão. Wesley Batista está preso desde 13 de setembro, sob suspeita de ‘insider trading’

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