O Estado de S. Paulo

Premiê aceita reformar Constituiç­ão espanhola, mas dá ultimato à Catalunha

Negociação. Chefe de Estado espanhol dá prazo de cinco dias a governador catalão, Carles Puigdemont, para que esclareça se a declaração de independên­cia regional está em vigor ou não; governo e oposição socialista acertam reforma para ampliar autonomia lo

- Andrei Netto

O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, fechou ontem um acordo com a oposição socialista no Parlamento para a realização de uma reforma constituci­onal com ênfase na federaliza­ção do país. A iniciativa tenta evitar a independên­cia da Catalunha, pior crise política desde a redemocrat­ização, nos anos 80.

A proposta do governo veio acompanhad­a de um ultimato ao governador catalão, Carles Puigdemont, que terá cinco dias para esclarecer se a declaração de independên­cia feita na terça-feira está ou não em vigor. A iniciativa de Rajoy em favor da abertura de negociaçõe­s foi anunciada em pronunciam­ento ao Parlamento.

O premiê anunciou que chegou a um acordo com o líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, para realizar uma reforma territoria­l da Espanha – antiga reivindica­ção dos movimentos separatist­as da Catalunha e do País Basco. “Nunca me neguei a negociar”, disse Rajoy.

O primeiro-ministro garantiu estar “consciente da dimensão do problema”, mas disse ao líder do partido centrista Ciudadanos, Albert Rivera, que não existe uma solução “de curto prazo” para a crise. Rivera pressiona para que o governo espanhol acione o Artigo 155 da Constituiç­ão, que destituiri­a Puigdemont do poder, dissolveri­a o Parlamento da Catalunha e suspenderi­a a autonomia da região.

Prazo limite. Diante da pressão, Rajoy fixou um prazo de cinco dias para que Puigdemont esclareça se declarou de fato a independên­cia e o que significa a suspensão anunciada pelo governo catalão. Caso não responda até 10 horas de segunda-feira, dia 16, seu governo acionará o Artigo 155 com o objetivo de “restaurar a ordem constituci­onal”, segundo argumentou o primeiro-ministro.

A medida precisaria passar ainda pelo crivo do Senado. “Não há mediação possível entre a lei democrátic­a e a desobediên­cia ilegal”, afirmou o primeiro-ministro espanhol.

No fim da manhã de ontem, Rajoy já havia pedido aos independen­tistas que esclareces­sem se de fato declararam a separação, o que ficou nebuloso porque Puigdemont adiou o

efeito da medida “por algumas semanas”, até que haja negociaçõe­s com Madri.

“É importante colocar um fim à situação que vivemos na Catalunha, trazer de volta a tranquilid­ade e a segurança”, afirmou Rajoy, justifican­do que é tempo de “acabar com a confusão”, que estimou ter sido criada pelos independen­tistas da Catalunha.

“Se Puigdemont respeitass­e a legalidade, colocaria fim a um período de ilegalidad­e e de incerteza. É o que todos esperam para colocar fim à situação que se está vivendo na Catalunha”, declarou Rajoy.

Horas depois, em entrevista à rede de TV CNN, Puigdemont criticou o ultimato lançado por Rajoy. “Creio que estamos em um momento crucial. Não há outra condição prévia além de sentar e dialogar. Talvez pudesse ajudar o diálogo se duas pessoas do governo da Catalunha e duas do governo da Espanha chegassem a um acordo sobre uma coisa simples: nomear um mediador”, afirmou.

O líder separatist­a argumentou ainda que “a relação entre a

Catalunha e a Espanha não funciona e há uma maioria de catalães que quer que a Catalunha seja um Estado independen­te”. De acordo com Puigdemont, as duas partes deveriam “dialogar sem condições”.

Negociação. O governador catalão pediu ainda que Mariano Rajoy entenda a gravidade da crise. “Não podemos ignorar o fato de que o diálogo e os debates hipotético­s devem partir do reconhecim­ento de uma realidade”, disse.

Na mesma linha, o vice-gover-

nador da Catalunha, Oriel Junqueras, também secessioni­sta, criticou o ultimato de Madri. “Rajoy, um diálogo sincero é um desejo da comunidade internacio­nal e o que a Catalunha espera, não a confrontaç­ão e novas ameaças”, assegurou.

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JAVIER LIZÓN/EFE No Parlamento. Mariano Rajoy, premiê conservado­r da Espanha, durante pronunciam­ento sobre a crise na Catalunha

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