O Estado de S. Paulo

Sem MPs, governo terá dificuldad­e de cumprir meta fiscal

Atraso na aprovação de medidas provisória­s exigirá novas ações da equipe econômica para que o déficit de 2018 não supere os R$ 159 bi

- Eduardo Rodrigues Adriana Fernandes Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

A ameaça do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de não colocar mais em pauta no plenário da Casa medidas provisória­s do governo Michel Temer coloca em risco uma série de ações já anunciadas pela equipe econômica. Somadas, elas teriam um efeito fiscal positivo de R$ 17,3 bilhões em 2018, segundo levantamen­to do ‘Estadão/Broadcast’. Foram considerad­as nesse cálculo medidas para aumentar a arrecadaçã­o e para reduzir despesas.

A declaração de Maia é um problema para o governo porque as Medidas Provisória­s têm efeito imediato. Elas começam a valer assim que são publicadas pelo Poder Executivo e só depois são analisadas pelo Congresso. O outro mecanismo legal que pode ser usado pelo governo são os Projetos de Lei, mas a tramitação deles é bem mais desgastant­e: precisam ser aprovados na Câmara e no Senado e só passam a valer depois que são sancionado­s pelo presidente.

Medidas Provisória­s que tratam de aumento de tributos ou de corte de despesas, por exemplo, podem ter impacto imedia- to no caixa da União. O atraso na aprovação dessas MPs, caso Maia cumpra sua ameaça, pode exigir medidas adicionais além das que foram anunciadas para evitar o descumprim­ento da meta fiscal do ano que vem, que permite déficit de até R$ 159 bilhões, afirmam fontes da área econômica.

Além do risco para as contas públicas, travar a votação das MPs deixa em suspenso o programa de financiame­nto estudantil (Fies), a possibilid­ade de o governo firmar acordos de leniência com bancos e a ampliação de investimen­tos no setor de petróleo ( leia mais na pág. B4).

O desabafo feito por Maia nesta semana sobre a forma como o atual governo exagera no envio de MPs ao Congresso ocorreu antes mesmo de o Planalto enviar um pacote de medidas provisória­s que teriam o maior impacto para as contas públicas no próximo ano. As propostas Henrique Meirelles de aumento de receita foram antecipada­s pelo governo em agosto, mas, quase dois meses depois, o pacote não foi encaminhad­o ao Congresso para não prejudicar as negociaçõe­s que tentam barrar a segunda denúncia contra Temer na Câmara.

Segundo uma fonte da equipe econômica, quanto mais tempo o governo adia o envio das medidas, maior é a perda de receitas em relação ao que foi estimado. Apenas a tributação de fundos de investimen­tos exclusivos tem o objetivo de gerar receitas extras de R$ 6 bilhões no próximo ano. A medida provisória com o tema está pronta – mas ainda não foi enviada – e tem de ser aprovada até o fim do ano para entrar em vigor em 2018.

Entre as MPs que já tramitam no Congresso, e portanto já estão em vigor, o efeito fiscal para 2018 é menor, mas não desprezíve­l. A medida provisória que cria o Programa de Desligamen­to Voluntário (PDV) do Governo Federal, pode trazer uma economia de R$ 1 bilhão no próximo ano.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem que o governo está analisando essas questões. “Já há discussão de permitir cada vez menos MPs. Vamos levar em conta essa manifestaç­ão do presidente da Câmara, muito relevante.”

“Esperamos até a próxima semana ter uma estratégia bem definida para isso e ver qual seria o curso da apresentaç­ão de projetos de lei, se for o caso.”

MINISTRO DA FAZENDA

 ?? INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO ??
INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil