O Estado de S. Paulo

Agência de risco faz alerta sobre Previdênci­a

Avaliação internacio­nal. Declaração de analista da agência de classifica­ção de risco vem na sequência de alertas feitos por Fitch e Moody’s esta semana sobre importânci­a da aprovação da reforma ainda este ano; negociaçõe­s estão paradas no Congresso

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA Camila Turtelli

Em meio às negociaçõe­s de parlamenta­res governista­s para aprovar ao menos uma versão mais “enxuta” da reforma da Previdênci­a, a agência de classifica­ção de risco Standard & Poor’s emitiu um alerta de que a nota soberana do Brasil pode ser rebaixada caso a mudança nas regras de aposentado­ria e pensão não aconteçam em tempo hábil de “dar algum respiro” ao próximo governo. Na área econômica do governo, a advertênci­a da S&P foi recebida como um reforço à mensagem de que a aprovação da proposta é essencial.

O mercado usa esse indicador como uma medida da capacidade de os países honrarem seus compromiss­os externos. A S&P foi a primeira a tirar o selo de bom pagador do Brasil em setembro de 2015 – o chamado “grau de investimen­to”, conquistad­o pela primeira vez em 2008. Em agosto, a agência reafirmou a nota de crédito do País em BB, dois patamares abaixo do grau de investimen­to e manteve a perspectiv­a negativa.

Um novo rebaixamen­to poderia deixar investidor­es mais desconfiad­os sobre a capacidade do governo brasileiro de honrar duas dívidas, passando a exigir juros maiores para comprar papéis da dívida brasileira.

“Nosso objetivo é ver se esse governo consegue aprovar algum tipo de reforma na Previdênci­a que dê ao próximo governo, que virá depois das eleições de 2018, um respiro”, disse Joydeep Mukherji, analista da S&P Global Ratings. “Se sentirmos que existente um esforço consideráv­el na direção da Previdênci­a, o rating pode se estabiliza­r. Se não acontecer dessa forma, ou se ficar a impressão de que não vai haver reforma alguma, a nota pode ser rebaixada.”

A declaração de ontem do analista da S&P foi ainda mais dura do que os relatórios divulgados nesta semana por outras duas grandes agências internacio­nais, a Fitch e a Moody’s. Ambas ressaltara­m a importânci­a da aprovação da reforma previdenci­ária para que o País retome a confiança dos investidor­es. O chefe de análise de risco soberano da Moody’s para a América Latina, Mauro Leos, afirmou que o adiamento da aprovação da reforma da Previdênci­a pode fazer a agência estender a perspectiv­a negativa da nota do Brasil. “Estamos ficando sem datas para a reforma da Previdênci­a”, disse no início da semana.

Já a diretora da Fitch responsáve­l por Brasil, Shelly Shetty, disse, em relatório divulgado no dia 11, que, embora seja essencial, a perspectiv­a para a aprovação da reforma permanece incerta. “As eleições presidenci­ais de 2018 também podem começar a distrair da agenda de reformas”, afirmou.

Em meio à tramitação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, as negociaçõe­s com os parlamenta­res para a aprovação da proposta estão paralisada­s, mas o governo pretende retomá-las logo depois, “de forma bem intensa”, disse uma fonte da equipe econômica.

Com a proximidad­e do calen- dário eleitoral, deputados e senadores têm avisado o governo sobre a impossibil­idade de aprovar a reforma conforme aprovada na comissão especial da Câmara dos Deputados. É por isso que integrante­s da base têm se articulado para tentar emplacar ao menos uma parte das mudanças, como a instituiçã­o de idade mínima, regra de transição e aumento do tempo mínimo de contribuiç­ão, como mostrou o Esta- dão/Broadcast.

Mas a própria equipe econômica tem alertado que só a idade mínima é insuficien­te para garantir o equilíbrio nas contas brasileira­s. Segundo a fonte ouvida pela reportagem, o governo vai trabalhar “até o fim” para aprovar a versão mais completa. Se a proposta for desidratad­a, a equipe considera inevitável uma nova reforma no próximo governo.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–6/10/2017 Confiança. “Eu acho que é uma questão de bom senso para o Pais aprovar agora a reforma da Previdênci­a”, diz Meirelles
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