Venezuela
Delator da Odebrecht diz ter doado a Maduro US$ 35 milhões.
A procuradora-geral destituída após romper com o chavismo, Luisa Ortega Díaz, difundiu ontem um vídeo com uma delação do então presidente da Odebrecht na Venezuela, o brasileiro Euzenando Azevedo. Na gravação, ele diz ter recebido um pedido de US$ 50 milhões por parte do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, mas fechado a contribuição em US$ 35 milhões. A contribuição seria para financiar a campanha presidencial de 2013.
O vídeo faz parte da delação do executivo e foi colocado ontem no Twitter pela procuradora-geral afastada. O trecho se refere às declarações que o executivo brasileiro prestou na sede do Ministério Público Federal, no Estado de Sergipe, no dia 15 de dezembro de 2016.
No início do ano, a procuradoria venezuelana, então chefiada por Ortega, tentou prender o brasileiro, que disse ter havido pagamento também a um dos principais líderes opositores, Henrique Capriles, derrotado por Maduro em 2013. Sobre o contato com o governo chavista, ele afirmou:
“Fui procurado por um dos representantes do sr. Nicolás Maduro, um sr. chamado Américo Mata”, disse Azevedo. Segundo o executivo, Mata havia sido o presidente do Instituto do Desenvolvimento Rural Venezuelano. “Eu já o conhecia porque cir- culava no governo e quando o presidente Chávez estava doente, o vice-presidente (Maduro) ia visitar nossas obras e sempre ia acompanhado do sr. Mata”, disse o brasileiro.
“Então esse sr. Américo Mata me procurou e fechou um encontro comigo”, explicou. Segundo ele, foram várias as reuniões. “Ele me pediu uma contribuição. Ele sabia de nosso negócio e do tamanho de nossas operações”, disse. “Ele me pediu a contribuição para a ajuda para a campanha do presidente Maduro”, insistiu. “Tínhamos uma operação muito grande na Venezuela”, afirmou. O brasileiro indica que Mata chegou a pedir US$ 50 milhões. “Eu aceitei dar US$ 35 milhões”, afirmou. Azevedo também explicou o que pediu em troca do financiamento. “Pedi a ele que o candidato, se ganhasse, mantivesse nossas obras como prioritárias do governo dele, já que as obras eram do governo Chávez”, disse. “Ele (Maduro) era a continuidade. Mas poderia ter outro tipo de interesse”, sustentou.
“Américo me garantiu que, se o presidente Maduro ganhasse, continuaria colocando as obras da Odebrecht como prioritárias, até para dar imagem de continuidade de Chávez”, disse. “Nós negociamos e eu aceitei pagar. Foram liberados esses recursos para ele, durante a campanha”, completou.
O vídeo foi publicado por Ortega minutos depois de o atual procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, emitir um comunicado no qual informa que difundiu um alerta vermelho na Interpol contra Azevedo. Saab também ativou outro alerta na Interpol contra Ortega. A procuradora destituída, porém, está em Genebra e amanhã terá encontros na ONU.
Resposta. O Estado contactou por telefone o ministro de Comunicação e Informação venezuelana, Ernesto Villegas, para comentar a divulgação do vídeo por Ortega. Ele preferiu não dar declarações. Também contactado, o procurador-geral que a substituiu preferiu não fazer comentários. Fontes próximas a Ortega dizem que ela deve ampliar a divulgação de vídeos que comprometeriam outros funcionários chavistas.
Ligada ao ex-presidente Hugo Chávez, Ortega rompeu com Maduro este ano, quando o Judiciário, controlado pelo chavismo, retirou poderes do Legislativo. Ela afirmou que antes de deixar Caracas e se refugiar em Bogotá com o marido, o deputado Germán Ferrer, fez cópias autenticadas de denúncias contra autoridades venezuelanas. Ela prometeu repassar as provas aos países que investigam o caso.
Criticada pelo chavismo por ter guardado as denúncias durante os 10 anos em que ocupou o cargo, a ex-procuradora disse que se opôs ao governo Maduro quando ficaram claras as violações aos direitos humanos.