O Estado de S. Paulo

Os efeitos do horário de verão sobre a obra ‘The Clock’

A medida vai trazer mudanças para a videoinsta­lação de Christian Marclay no IMS paulista

- Pedro Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO

“É um caso de vida interferin­do na arte”, diz o artista suíço-americano Christian Marclay sobre os efeitos que sua videoinsta­lação, The Clock, vai sofrer com a mudança para o horário de verão no Brasil neste final de semana. Em exibição na recém-inaugurada nova sede do Instituto Moreira Sales, na Paulista, a obra é um recorte de várias cenas do cinema, sempre com um relógio à mostra, que totaliza 24 horas de duração.

A projeção fica disponível em datas selecionad­as a partir das 10h até as 20h do dia seguinte, período em que qualquer visitante pode conferir a instalação no IMS. Por isso, na virada deste sábado, 14, para domingo, 15, quando estará em exibição, a obra também sofrerá o salto de uma hora.

“Já havia acontecido em ou- tra ocasião. O computador interno pula uma hora sem problemas”, explica o artista em entrevista ao Estado, por e-mail. Por segurança, porém, um técnico estará de plantão caso algo dê errado. “Os visitantes perderão uma hora, você terá que voltar na semana seguinte para vivenciar o período entre meianoite e uma da manhã.”

Marclay não fica triste com a interferên­cia. “Faz parte de The Clock. Permite que sua agenda e sua vida se tornem parte do trabalho. Você se torna um ator.”

O relógio de cada uma das cenas, recortadas para a videoinsta­lação, mostra, exatamente, o horário real. Ideia antiga de Marclay, a montagem do filme demorou três anos para ser finalizada, até sua estreia na galeria White Cube, em Londres, em 2010. Desde essa época, já rodou o mundo em 25 exibições, passando por museus como o Centre Pompidou, em Paris, e o MoMA, em Nova York.

Após a projeção deste sábado, o IMS ainda vai exibir as 24 horas de The Clock por mais cin- co vezes, em 21 e 28 de outubro e em 4, 11 e 18 de novembro. Depois de São Paulo, The Clock segue ainda para Tel-Aviv e vai, na sequência, para o Tate Modern, retornando a Londres.

Por mais fascinante que seja a obra para o visitante, o artista não recomenda “maratonas” de The Clock. “Não é uma prova de resistênci­a. Eu prefiro que as pessoas venham em diferentes vezes e negociem sua própria agenda com The Clock”, explica ainda Marclay.

Não por acaso, toda a instalação tem uma disposição de sofás que difere do cinema, com mais espaço para circulação. “Diferentem­ente de um filme tradiciona­l, você pode entrar e sair quando quiser e ficar por quanto tempo desejar, mas eventualme­nte a vida real vai tirar você dali”, afirma. “The Clock é sempre um lembrete de quão atrasado você está para o seu próximo compromiss­o.”

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CORTESIA DO ARTISTA E PAULA COOPER GALLERY, NEW YORK Tempo. De sábado para domingo, obra terá salto de uma hora

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