O Estado de S. Paulo

Crítica ao ‘punitivism­o’

Procurador critica julgamento do STF; para presidente de entidade, decisão é ‘equivocada’

- Fausto Macedo Julia Affonso Breno Pires / BRASÍLIA

Para Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes, ainda que o STF tenha decidido que são aplicáveis medidas cautelares contra parlamenta­res, a Corte deverá ficar inibida de impor medidas que interfiram no mandato.

O resultado do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidiu que me- didas cautelares impostas a deputados e senadores terão de passar pelo crivo do Legislativ­o teve repercussã­o negativa entre procurador­es.

O coordenado­r da força-tarefa da Operação Lava Jato no Pa- raná, Deltan Dallagnol, escreveu ontem em sua página no Facebook que os políticos, agora, estão sob “proteção suprema”.

“Não surpreende que anos depois da Lava Jato os parlamenta­res continuem praticando crimes: estão sob suprema proteção”, ironizou o procurador da República. “Parlamenta­res têm foro privilegia­do, imunidades contra prisão e agora uma nova proteção: um escudo contra decisões do STF, dado pelo próprio STF.”

O procurador ressalvou a atuação de alguns ministros da Corte, como Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, vencidos na votação, que teve um placar de 6 a 5, desempatad­o pela presidente do STF, ministra Cármen Lúcia. “Fica o reconhecim­ento à minoria ( no Supremo) que vem adotando posturas consis- tentes e coerentes contra a corrupção, especialme­nte os ministros Fachin e Barroso.”

‘Equivocada’. Para o presidente da Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, a decisão da Corte foi “equivocada do ponto de vista jurídico e político”.

“Não vejo problema de dizer que seja uma Corte política. A Corte do Supremo não pode ser micropolít­ica. Uma jurisprudê­ncia que é mudada de acordo com a pessoa que é julgada não faz bem ao direito e não faz bem ao País”, afirmou Robalinho ao Estado.

Na avaliação do presidente da entidade dos procurador­es da República, o julgamento foi “ruim para a imagem do Judiciário”. “Se existiu algo de bom, é o STF afirmar que as cautelares são possíveis para qualquer cidadão e que a última palavra na interpreta­ção do direito é do STF, e isso está correto. Do ponto de vista de mérito, não foi a decisão mais feliz possível, e do ponto de vista político pareceu que o STF cede não à macropolít­ica, mas à micropolít­ica.”

Robalinho considerou que a decisão não deve influencia­r na aplicação de novas medidas cautelares contra parlamenta­res, opinião que diverge da posição dos ministros do STF Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes ( mais informaçõe­s nesta página). “Do ponto de vista do Judiciário e do MP ( Ministério Público), não vai inibir, não. Nós vamos continuar a nossa função de investigaç­ão. E o Judiciário não tem de pedir licença para determinar. Caberá à Casa política o ônus de analisar politicame­nte”, disse.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO–30/6/2017 Facebook. Dallagnol fez post sobre STF

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