EUA saem da Unesco
Washington justifica decisão acusando organização de ser pró-Palestina e anti-Israel; governo israelense saúda medida e segue exemplo
Donald Trump anunciou a retirada do país da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura sob a justificativa de que a instituição é muito “anti-Israel” e “pró-Palestina”.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou ontem a retirada do país da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com sede em Paris. A decisão unilateral foi tomada sob a justificativa de a instituição ser muito “anti-Israel” e “pró-Palestina” – desde 2011, o território palestino é reconhecido como um Estado com status de membro pleno e permanente.
A iniciativa confirma a retirada de 22% do orçamento da entidade, custeado por Washing- ton, e foi acompanhada pelo governo de Israel.
A Unesco foi criada em 1945, após a 2.ª Guerra, justamente por iniciativa dos EUA, que viam na organização um patrocinador da democracia, dos direitos humanos e da educação. Mas a tensão entre líderes políticos republicanos e a Unesco é histórica. Em 1984, o ex-presidente Ronald Reagan já havia retirado o país da instituição. Em 2002, o republicano George W. Bush decidiu pelo retorno da representação americana.
Em 2011, a entidade reconheceu o território palestino como membro. Em clima de tensão, o ex-presidente democrata Ba-
rack Obama anunciou o embargo na contribuição americana a toda instituição que reconhecesse o território palestino como Estado.
Com a medida, a Unesco perdeu 22% de seu orçamento, um total de US$ 70 milhões por ano, e teve de reduzir investimentos, enfrentando uma crise financeira permanente. Em razão do afastamento, a dívida dos EUA com a entidade chega a US$ 500 milhões. Washington perdeu em 2013 seu direito a voto na Assembleia-Geral, embora permaneça membro do Conselho Executivo.
Outro momento de tensão entre a Unesco e os interesses da Casa Branca foi a rejeição da inclusão de Kosovo, cuja independência da Sérvia foi promovida por EUA e União Europeia. Na entidade não existe o direito de veto – como na ONU – o que permite que os temas sejam decididos por maioria simples pela comunidade internacional.
Anunciada pelo secretário de Estado americano, Rex Tillerson, a decisão de ontem será válida a partir de 31 de dezembro de 2018, quando os EUA passarão a ocupar o papel de observador na instituição. Até a noite de ontem, apenas um país emitiu nota em favor da iniciativa: Israel, que seguiu o exemplo. Segundo o porta-voz de Tillerson, Heather Nauert, a Unesco “necessita de uma reforma” para superar o seu “contínuo viés anti-israelense”. Em comunicado, o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, saudou a “nova era” nas organizações internacionais. “Quando se pratica a discriminação contra Israel, é preciso pagar um preço”, afirmou.
Segundo Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas de Paris, a decisão de ontem amplia o isolacionismo americano. “Trump faz um gesto que nem mesmo George W. Bush fez. Ele é muito mais isolacionista e unilateralista”, entende o expert. “Os EUA se retiram de uma organização que, em termos de educação de mulheres e jovens, tem papel importante.”