O Estado de S. Paulo

Reforma tributária de Trump afeta Brasil

Mudança nos EUA pode aumentar pressão no Brasil pela redução do Imposto de Renda das empresas

- BRASÍLIA ADRIANA FERNANDES E IDIANA TOMAZELLI

Se aprovada pelo Congresso norte-americano, a reforma tributária defendida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode piorar a posição do Brasil em termos de competitiv­idade internacio­nal.

As mudanças no sistema tributário na principal economia do mundo também podem contribuir para aumentar a pressão dos empresário­s brasileiro­s para a redução do imposto de renda das pessoas jurídicas.

Como o foco da reforma é dar tratamento mais benéfico para as empresas americanas, a avaliação da área técnica da Receita Federal é que as exportaçõe­s e a relações comerciais com os americanos vão ficar custosas.

A intenção de Trump é reduzir a carga de impostos para empresas e classes de renda média e alta. O texto prevê o corte de 35% para 20% dos impostos sobre as empresas. A tributação das empresas americanas vai ficar abaixo da média dos países da OCDE, em 22,5%.

O economista Bernard Appy, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, diz que a proposta pode aumentar a pressão no Brasil pela redução da carga tributária. No País, a tributação do imposto de renda das empresas é de 34%.“Tem uma tendência mundial de redução da tributação do Imposto de Renda. Isso vai gerar uma pres- são aqui também”, diz. Do ponto de vista macroeconô­mico, o risco é de que a reforma possa trazer problemas fiscais para os Estados Unidos e acelerar o processo de alta dos juros, com im- pacto negativo sobre o Brasil no futuro.

Beabá. O relator da reforma tributária, deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), esteve recentemen­te nos Estados Unidos e discutiu pontos do projeto de Trump. “Nossa maior preocupaçã­o é simplifica­ção, nem o beabá nós fizemos”, afirma. A proposta dos EUA pode tornar o país ainda mais competitiv­o, o que pode provocar uma migração na geração dos empregos de maior qualidade, avalia o vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz. “Se tiver queda da carga tributária, (os EUA) vão ser imbatíveis”, avalia Roriz. “Se o Brasil não colocar foco na competitiv­idade, e a forma de tributar é fundamenta­l, vamos nos distanciar dos mais competitiv­os”, diz.

Para o assessor especial da Presidênci­a Gastão Toledo, que tem participad­o das discussões de reforma tributária, uma mudança no sistema tributário dos EUA “certamente vai afetar as transações internacio­nais”. Segundo ele, os resultados em torno da proposta ainda são incertos. “É primeiro necessário saber se isso é aceitável para o Congresso americano, que precisa fechar o Orçamento. Se é para reduzir carga, certamente vai ter que indicar outras fontes de receitas”, avalia. /

Imbatíveis

“Se tiver queda da carga tributária, os EUA vão ser imbatíveis no campo da competitiv­idade” José Ricardo Roriz

VICE- PRESIDENTE DA FIESP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil