O Estado de S. Paulo

Odebrecht financiou campanhas por uma década, diz delator

Em novo vídeo divulgado, ex-executivo da empresa afirma que deu US$ 3 milhões por ano a candidatos do governo

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

A construtor­a brasileira Odebrecht financiou campanhas dos candidatos chavistas por uma década e, a cada ano, destinou ao menos US$ 3 milhões para bancar esses políticos. As informaçõe­s fazem parte da dela- ção premiada do ex-presidente da Odebrecht na Venezuela, Euzenando Azevedo, ao Ministério Público Federal, no Brasil no dia 15 de dezembro de 2016, e foram publicadas ontem nas redes sociais pela procurador­a afastada Luisa Ortega Díaz.

Entre os políticos financiado­s pela empresa brasileira estavam alguns dos principais nomes do chavismo, entre eles Diosdado Cabello e Elías Jaua, quando ainda eram candidatos a governador. Sob o governo de Nicolás Maduro, Cabello chegou a ser vice-presidente. A lista de beneficiad­os ainda incluía Pablo Pérez e Gian Carlo Di Martino, no Estado de Zulia.

De acordo com o executivo brasileiro, a chegada de Hugo Chávez ao poder colocou a Venezuela em uma constante campanha eleitoral. Segundo ele, em todos os anos, com exceção de 2009 e 2011, eleições foram realizadas, e em todas a Odebrecht bancou os nomes do governo.

“Contribuím­os com muitas delas, especialme­nte nos Estados e municípios onde tínhamos presença em obras”, disse Azevedo. “Por nosso tamanho, éramos sempre procurados para contribuir para essas campanhas.”

O brasileiro explicou que o objetivo da distribuiç­ão de dinheiro era “manter a fluidez nas relações em nível municipal e estadual”. Mesmo que esses governos não pudessem interferir nas obras, era com eles que questões como licenças am- bientais e outros trâmites eram tratadas.

Na quinta-feira, Ortega usou suas redes sociais para publicar um vídeo no qual Azevedo também admitia ter financiado a campanha eleitoral de Maduro. Na gravação, o ex-presidente da Odebrecht na Venezuela afirma ter recebido um pedido de US$ 50 milhões por parte do chavista e aceitou pagar US$ 35 milhões. O trecho se refere às declaraçõe­s que o executivo brasileiro prestou na sede do Ministério Público Federal em Sergipe em 2016.

Ortega afirmou na sexta-feira ao Estado em Genebra que o regime chavista desviou milhões de dólares para bancos de ao menos cinco países. “(O dinheiro) foi para Suíça, Andorra, Espanha, Abu Dhabi e República Dominicana”, disse. Ela não deu detalhes de como o dinheiro teria ido a esses destinos e quem seria o dono.

A Odebrecht alertou que a divulgação dos vídeos viola o sigilo das delações e considera tomar medidas contra a ex-procurador­a venezuelan­a.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS - 23/8/2017 Afastada. Ortega prometeu divulgar hoje mais informaçõe­s

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