O Estado de S. Paulo

Vídeo de delação provoca crise entre Maia e Planalto

Para equipe de Temer, Câmara poderia ter evitado publicação em seu portal de depoimento de Lúcio Funaro

- Tânia Monteiro Igor Gadelha Andreza Matais / BRASÍLIA / COLABOROU BRENO PIRES

A divulgação dos vídeos da delação premiada do operador Lúcio Funaro provocou novo confronto entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente Michel Temer. No governo, o gesto foi visto como ação de Maia para tentar constrange­r o Palácio e mostrar descolamen­to. Interlocut­ores de Temer avaliam que o deputado poderia não ter colocado no portal da Câmara o material, até então não tornado público. O episódio levou a um bate-boca entre Maia e a defesa de Temer na semana em que a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) vai analisar o relatório da segun- da denúncia contra o presidente. Anteontem, o advogado Eduardo Carnelós publicou nota para criticar “vazamentos criminosos”. Maia disse que o defensor é “incompeten­te”. Carnelós recuou e disse que “jamais” imputou “a prática de ilegalidad­e, muito menos crime” ao deputado.

A divulgação dos vídeos da delação premiada do operador Lúcio Funaro causou um novo confronto entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEMRJ), e o presidente Michel Temer. Para interlocut­ores do Palácio do Planalto, a medida é mais uma ação de Maia para tentar constrange­r o governo e mostrar descolamen­to do presidente. O governo avalia que o deputado não tinha a obrigação de colocar os vídeos no site da Câmara.

O episódio levou a um bateboca público entre Maia e a defesa de Temer, justamente na semana em que a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Câmara vai analisar o relatório da segunda denúncia contra o presidente, por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa no caso J&F. Anteontem, o advogado Eduardo Carnelós publicou nota para criticar “vazamentos criminosos”. Maia contraatac­ou e disse que o defensor é “incompeten­te”. Carnelós recuou e, também em nota, disse que “jamais” imputou “a prática de ilegalidad­e” ao deputado.

Os vídeos da delação de Funaro foram divulgados no site da Câmara com documentos relacionad­os à segunda denúncia contra Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). O material foi enviado pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, com ofício expedido em 21 de setembro, uma semana após a Procurador­ia-Geral da República (PGR) apresentar a segunda denúncia contra Temer.

Segundo a presidênci­a da Câmara, no ofício não há menção ao sigilo do material. Ontem, por meio de assessoria, Cármen Lúcia afirmou que apenas oficiou Maia e o relator do inquérito, Edson Fachin, é a autoridade máxima e única no processo. Segundo o gabinete de Fachin, a delação de Funaro não teve o sigilo retirado em nenhum momento.

O secretário-geral da Mesa Diretora, Wagner Soares, que é subordinad­o a Maia, determinou, porém, que os vídeos fossem divulgados no site da Câmara. O material subiu na íntegra no dia 29 de setembro, uma semana depois de o presidente da Câmara disparar duras críticas a Temer e ao PMDB em razão do assédio dos peemedebis­tas a parlamenta­res do PSB com os quais o DEM negociava filiação.

Os vídeos vieram a público somente na sexta-feira, com reportagem do jornal Folha de S.Paulo. A primeira nota de Carnelós com acusação de “vazamento criminoso” irritou Maia, que fez chegar a Temer sua insatisfaç­ão. “Não teve vazamento. O advogado é incompeten­te”, disse o presidente da Câmara à Coluna do Estadão. Em nota, Maia disse ainda ver com “perplexida­de muito

grande” ter sido tratado de “forma absurda” pelo advogado, “depois de tudo que fiz pelo presidente, da agenda que construí com ele, de toda defesa que fiz na primeira denúncia”.

Embora as imagens de Funaro impression­em o Planalto e tenham impacto no governo, a avaliação é de que essa nova polêmica com Maia pode trazer mais problemas para o presidente do que o conteúdo dos ví-

deos. No Planalto, o teor da primeira nota de Carnelós foi considerad­o um “tiro no pé”. Temer, então, mandou seu advogado distribuir a segunda nota, na qual ele negou ter imputado “crime” a Maia, para amenizar a tensão com o deputado.

Temperatur­a. A temperatur­a entre Temer e Maia já havia subido em razão do episódio do “assédio” a parlamenta­res do PSB. Maia disse que foi atingido com uma “faca nas costas” pelo PMDB. Desde então, houve mais problemas.

Na semana passada, por exemplo, Maia, em desacordo com o Planalto, abriu a sessão da Câmara para votar a Medida Provisória (MP) sobre acordos

de leniência de bancos. A base, porém, não apareceu na votação por articulaçã­o do governo, que tinha pressa em votar o relatório pelo arquivamen­to da segunda denúncia. Maia, então, sentiu-se derrotado na intenção de votar a MP e acusou o Planalto de não ter prioridade em suas pautas.

O Planalto já estava atento às ações de Maia e a desconfian­ça de parte a parte só tem crescido. Para o governo, parlamenta­res que se dizem indecisos poderão aproveitar o impacto dos vídeos para fazer novas cobranças ao Planalto. A avaliação é de que isso poderia aumentar o impacto dos apoios, mas não inviabiliz­ar o arquivamen­to da denúncia.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 15/09/17 ‘Assédio’. Temer e Maia já haviam se desentendi­do em relação a parlamenta­res do PSB

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