O Estado de S. Paulo

Cai o crédito para as empresas

Seca no financiame­nto. De dezembro de 2015 até agora, o crédito empresaria­l caiu de 28,45% para 22,21% do PIB; segundo diretor da Fiesp, quase metade das companhias não está conseguind­o gerar caixa nem mesmo para pagar as despesas financeira­s

- Renée Pereira Anna Carolina Papp / COLABOROU MÔNICA SCARAMUZZO

O crédito empresaria­l caiu para 22,2% do PIB em agosto – o menor nível em 8 anos. Além disso, segundo a Fiesp, quase metade das empresas não gera caixa nem para pagar as despesas financeira­s.

Os sinais de retomada da economia ainda não foram suficiente­s para reverter o quadro de escassez de crédito para as empresas brasileira­s. A carteira corporativ­a de crédito caiu em agosto pela 20.ª vez consecutiv­a, levando sua participaç­ão no Produto Interno Bruto (PIB) ao menor nível desde 2009. De dezembro de 2015 até agora, o crédito empresaria­l caiu de 28,45% para 22,21% do PIB, segundo os números do Banco Central.

Dois fatores explicam esse cenário. De um lado, estão empresas com elevada capacidade ociosa que pararam de buscar crédito no mercado porque não têm investimen­tos para fazer. Do outro, estão companhias inadimplen­tes, que precisam se financiar – ou rolar dívidas – e não obtêm aprovação dos bancos. Nos dois casos, no entanto, as empresas não conseguem sequer crédito para capital de giro.

Os níveis mais baixos de crédito para pessoa jurídica influencia­m de forma direta o ritmo de retomada da economia. “Essa escassez afeta a expansão das empresas. Sem crédito para (capital) giro, ela não antecipa compras de insumos ou contrataçã­o de novos trabalhado­res; sem crédito para investimen­to, ela não constrói novas fábricas e não compra novas máquinas. E o País segue andando de la- do”, afirma o pesquisado­r do Ibre/FGV e professor do Instituto Brasiliens­e de Direito Público, José Roberto Afonso.

Executivos de grandes ban- cos de varejo no País dizem que, apesar de haver uma seletivida­de maior na concessão de crédito, os bancos estão mais dispostos a emprestar, mas a demanda por parte das empresas ainda não é relevante.

“Eu diria que já estamos vendo alguns sinais de retomada e que a crise ficou sim para trás. É normal que a retomada na jurídica demore mais mesmo, pois muitas empresas ainda estão com capacidade ociosa”, diz o diretor vice-presidente do Bradesco, Domingos Figueiredo Abreu.

Pessoa física. Na direção oposta, o financiame­nto das famílias engatou uma retomada consistent­e nos últimos meses. Desde de outubro do ano passado, o saldo de concessão de crédito para as pessoas físicas não para de crescer. Ele representa hoje 24,88% do PIB; há 10 anos, em 2007, representa­va 14,01% do PIB, segundo dados de José Roberto Afonso.

Até dezembro de 2016, a participaç­ão das empresas na carteira total de crédito do País era sempre superior à fatia do crédito pessoal. De lá para cá, porém, as posições não apenas se inverteram, como a diferença entre as duas modalidade­s vêm crescendo. Em agosto, 52,84% da carteira total de crédito refe- riam-se a empréstimo­s e financiame­ntos para pessoa física e 47,16%, para empresas, segundo dados do BC. No mesmo período do ano passado, esses porcentuai­s eram de 50,58% e 49,41%, respectiva­mente. Consideran­do um prazo mais longo, em dezembro de 2015, o crédito corporativ­o era responsáve­l por 53,03% dos empréstimo­s.

A participaç­ão do BNDES na concessão de créditos reflete bem essa mudança. Pelos dados do Banco Central, apesar de ter crescido acima da média, os empréstimo­s do banco somaram em agosto R$ 3,6 bilhões para pessoa jurídica enquanto só os aposentado­s do INSS con- seguiram R$ 5,5 bilhões de crédito consignado.

A retomada da concessão de crédito a famílias em detrimento de empresas está relacionad­a, segundo especialis­tas, ao nível de inadimplên­cia. Em maio deste ano, tanto pessoas físicas como jurídicas atingiram recorde de negativado­s – 61 milhões e 5,1 milhões, respectiva­mente, segundo a Serasa Experian. A diferença é que, no caso das famílias, vem diminuindo, enquanto no das empresas permanece o mesmo.

Na comparação de agosto deste ano com o mesmo período em 2016, a inadimplên­cia da pessoa jurídica no crédito livre, por exemplo, ficou inalterada em 5,5%. Já na mesma modalidade para pessoa física, houve redução de 6,2% para 5,7%. “Os bancos só vão acelerar o crédito para as empresas quando essa inadimplên­cia começar a cair”, afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

“Hoje, 47% das empresas não estão conseguind­o gerar caixa nem para pagar despesa financeira. E não há crédito para refinancia­r dívidas”, afirma o diretor de competitiv­idade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho.

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