O Estado de S. Paulo

Cida Damasco

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Diante da preocupant­e situação fiscal, a reforma da Previdênci­a ganha sentido de urgência.

OFundo Monetário Internacio­nal (FMI) avisou. As agências de rating, uma a uma, repetiram o mesmo alerta. E o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, voltou à carga: é imperativo aprovar a reforma da Previdênci­a ainda este ano, sob pena de inviabiliz­ar qualquer esforço de ajuste fiscal. Essa corrente de advertênci­as e/ou ameaças não se trata exatamente de uma novidade. Mas, agora, ganha sentido de urgência, diante da preocupant­e situação fiscal e da “pausa” decretada no governo, antes da votação da segunda denúncia contra o presidente Temer. De fato, nada estava andando em Brasília. Ou melhor, nada que não fosse resultado de negociação para salvar a pe- le do presidente.

O governo empurrou com a barriga a revisão do Orçamento para 2018 e a concretiza­ção das medidas que foram anunciadas dois meses atrás, com o objetivo declarado de evitar o colapso da administra­ção no ano que vem. Imagine-se então a reforma da Previdênci­a. A vulnerabil­idade das contas do governo é indiscutív­el. A meta fiscal para este ano pode até ser cumprida, mas para 2018 permanecem as incertezas – nos dois casos, o alvo é um déficit primário de R$ 159 bilhões, recentemen­te revisto e ampliado. Além disso, os cenários econômicos para depois de 2018 são ainda mais nebulosos, tanto quanto continua nebuloso o pós-Temer.

O FMI vê possibilid­ade de reequilíbr­io das contas públicas em 2021. Isso se houver reforma da Previdênci­a e se o teto de gastos não desabar. Já o último relatório da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI), órgão ligado ao Senado, joga para 2024 a virada de déficit para superávit primário, no chamado cenário base, que também considera o encaminham­ento da reforma da Previdênci­a, mas num prazo mais esticado. Segundo o IFI, “o risco de insolvênci­a fiscal está controlado”, mas no cenário pessimista, sem reformas, a dívida bateria nos 100% do PIB, entre 2010 e 2021. Outro cálculo extraído desse do- cumento dá bem a medida da fragilidad­e do setor público. Está em R$ 70 bilhões a parte da margem fiscal não comprimíve­l, ou seja, o volume de gastos que não podem ser cortados ou bloqueados sem paralisar a máquina pública. E, para 2018, já é prevista uma margem próxima desse número.

É verdade que essa “retomada” do governo terá de acontecer em breve, pelo menos parcialmen­te. É o caso da edição das medidas destinadas a acomodar o Orçamento de 2018 à nova meta fiscal, como o adiamento dos reajustes salariais dos servidores públicos e o aumento das alíquotas de contribuiç­ão previdenci­ária. Elas foram guardadas na gaveta por temor de que os lobbies dos setores atingidos contaminas­sem a votação da denúncia no Congresso, mas agora há pressa para aprovar essa revisão, para que as mudanças possam entrar em vigor em 2018. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou que não colocará mais em votação medidas provisória­s encaminhad­as pelo Planalto. A alegação é que o Congresso não pode se submeter às idas e vindas do Planalto, mas, no fundo, a estratégia é manter distanciam­ento do governo – e vem logo em seguida à ruidosa disputa entre o PMDB de Temer e o DEM de Maia, pelo recrutamen­to de políticos insatisfei­tos de outros partidos.

Mas, ainda que a tramitação do Orçamento seja feita sem atropelos, a reforma da Previdênci­a continua duvidosa. Vem lá de trás a desconfian­ça em relação à manutenção da proposta original do Planalto. Já se fala abertament­e num texto desidratad­o, concentrad­o na fixação da idade mínima – 65 anos para os homens e 62 para as mulheres –, e com redução no tempo de contribuiç­ão, de 25 anos na proposta atual. Mesmo assim, Maia vem dizendo que não será fácil aprovar “qualquer” reforma da Previdênci­a. E, se não for agora, como insiste a equipe econômica, provavelme­nte também não será no ano que vem, com a campanha eleitoral nas ruas. Se o governo quer mesmo sair da toca e cuidar dessas emergência­s, é bom se apressar. Está na praça a delação do doleiro Lúcio Funaro, que pode até não desembocar em nova denúncia, mas como as anteriores ameaça embolar o jogo no Congresso. Maia já reagiu duramente às acusações dos advogados de Temer de vazamento dos vídeos da delação. O roteiro é o de sempre: denúncias explosivas, desmentido­s indignados e, invariavel­mente, turbulênci­as na base parlamenta­r.

À espera da votação da nova denúncia, governo ensaia retomar a pauta

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