O Estado de S. Paulo

Senado revê decisão do STF e Aécio recupera mandato

Em votação aberta, tucano recebeu o apoio de 44 colegas; bancadas de PMDB e PSDB foram decisivas

- Julia Lindner Renan Truffi Thiago Faria / BRASÍLIA / COLABORARA­M RAFAEL MORAES MOURA, BRENO PIRES, TÂNIA MORAES e PEDRO VENCESLAU

O plenário do Senado decidiu, por 44 votos a 26, rejeitar a decisão do Supremo Tribunal Federal e permitir que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) volte a exercer o mandato. Eram necessário­s pelo menos 41 parlamenta­res a favor ou contra o tucano – caso contrário, a votação teria de ser feita em outra data. O PMDB deu apoio decisivo para a vitória de Aécio, com 18 votos de uma bancada de 22 senadores, a maior da casa. O PSDB, partido do qual o mineiro é presidente nacional licenciado, deu 10 dos 11 votos da bancada. Horas antes da sessão, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, havia concedido liminar para que a votação fosse aberta. Por determinaç­ão da Primeira Turma da Corte, Aécio estava afastado e cumprindo recolhimen­to domiciliar. Para conseguir os votos para retomar o mandato, ele teve apoio até de colegas que deixaram o hospital. Em nota, o tucano disse que recebeu com “serenidade” a decisão que, segundo ele, “restabelec­eu princípios essenciais de um Estado democrátic­o”.

O plenário do Senado rejeitou ontem, por 44 votos a 26, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e devolveu a Aécio Neves (PSDBMG) o exercício do mandato parlamenta­r. O placar foi apertado. Eram necessário­s pelo menos 41 senadores a favor ou contra o tucano para deliberar sobre o tema.

Aécio estava afastado da Casa e em recolhimen­to noturno desde 26 de setembro por determinaç­ão da Primeira Turma da Corte. Anteontem, senadores chegaram a cogitar o adiamento da votação por causa da dificuldad­e de o tucano conseguir os votos para retomar o mandato.

Dos senadores que votaram para derrubar as medidas cautelares impostas ao colega, ao menos 19 (43,2%) são alvo da Operação Lava Jato. Aécio é denunciado por corrupção passiva e obstrução da Justiça na caso J&F – ele foi gravado pedindo R$ 2 milhões em propina, segundo a denúncia da Procurador­iaGeral da República (PGR), a Joesley Batista. O tucano nega.

A maior parte dos implicados na força-tarefa (dez) é do PMDB, partido que mais deu votos a favor do senador mineiro – foram 18 no total da maior bancada da Senado (22). Aécio é um dos principais fiadores da aliança do PSDB ao governo Michel Temer – o partido está rachado no apoio ao Palácio do Planalto.

Ontem, durante a votação, Temer jantava com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Segundo Doria, o presidente ficou “satisfeito” com a decisão do Senado.

Defesa. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), por exemplo, foi um dos cinco parlamenta­res a discursar em defesa do tucano. Mesmo em recuperaçã­o de uma cirurgia, ele descumpriu recomendaç­ão médica para participar da sessão e ajudar a “salvar” o colega (mais informaçõe­s na página A5). “Quis Deus que eu tivesse a saúde para que, depois de operado, estivesse aqui hoje também para falar desta tribuna como último orador”, disse o senador no discurso.

A votação foi realizada menos de uma semana após o plenário do Supremo decidir que o Congresso pode avaliar afastament­o de mandato de parlamenta­res ou medidas que afe-

tem direta ou indiretame­nte o exercício do mandato. As cautelares contra Aécio haviam gerado uma crise entre STF e Senado, apaziguada com o julgamento da semana passada.

Jucá adotou um tom conciliado­r com o STF e disse que o Senado não propôs “impunidade” ao negar as cautelares. “Aqui, se nós tomarmos a decisão ‘não’, se nós não aceitarmos a decisão do Supremo, nós não estaremos suspendend­o a investigaç­ão, nós não estaremos passando a mão na cabeça de ninguém, nós não estaremos tirando nenhuma capacidade de investiga- ção de qualquer órgão investigat­ivo deste País”, afirmou.

Aliado de Aécio, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) usou argumento semelhante em favor de seu correligio­nário.. “É importante dizer que o processo terá sequência. O senador continuará sob jurisdição do STF, o inquérito está em curso, poderá ou não ser transforma­do em ação penal. Para que não fique essa discussão falsa de que é impunidade.” O PSDB, partido do qual o mineiro é presidente nacional licenciado, deu dez dos 11 votos da bancada para Aécio. O senador Ricardo Ferraço (ES) se ausentou da sessão.

Alvaro Dias (Podemos-PR) criticou a decisão do Senado. “Não votamos contra o senador (Aécio). Votamos em respeito à independên­cia dos Poderes e em respeito a quem cabe a última palavra sobre a interpreta­ção da Constituiç­ão, que é o STF, e não o Senado”, afirmou.

Questionad­o se a decisão do Senado era corporativ­ista, o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), se esquivou: “A decisão é decisão do plenário. Cabe a mim apenas dirigir os trabalhos. Presidente não vota”.

Pela manhã, o ministro Ale- xandre de Moraes, do STF, concedeu liminar determinan­do que o Senado fizesse de forma aberta a votação. “Os parlamenta­res devem prestação de contas a seus eleitores. Então, qualquer que seja o posicionam­ento do parlamenta­r, a sociedade tem que ter conhecimen­to.”

Carta. Antes da votação, Aécio encaminhou uma carta aos colegas em que disse ser inocente, submetido a “violência” e a uma “trama ardilosa”. “A determinaç­ão dessas cautelares, sem que nem sequer houvesse denúncia aceita contra mim, e o mais grave, sem que eu nem sequer pudesse apresentar as provas de minha defesa, se sustenta em uma gravação feita de forma clandestin­a, portanto criminosa, por um réu confesso, Joesley Batista”, disse no texto.

 ?? LUIS NOVA/ESP. CB/D.A PRESS ?? Fim do recolhimen­to. Aécio Neves em sua casa, no Lago Sul de Brasília: articulaçõ­es intensas antes da votação
LUIS NOVA/ESP. CB/D.A PRESS Fim do recolhimen­to. Aécio Neves em sua casa, no Lago Sul de Brasília: articulaçõ­es intensas antes da votação
 ?? DIDA SAMPAIO / ESTADÃO ?? Esforço. Machucado após queda de uma mula, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi à sessão em uma cadeira de rodas
DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Esforço. Machucado após queda de uma mula, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi à sessão em uma cadeira de rodas
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil