O Estado de S. Paulo

Temer pode trocar comando do BNDES para ‘acalmar’ Maia

Peemedebis­ta pode mudar comando do banco para agradar ao presidente da Câmara e apaziguar ânimos às vésperas de se votar 2ª denúncia

- Igor Gadelha Vera Rosa / BRASÍLIA / COLABORARA­M ADRIANA FERNANDES e IDIANA TOMAZELLI

Às vésperas da votação da segunda denúncia e após mal-estar com Rodrigo Maia, Michel Temer estuda a troca de Paulo Rabello de Castro, hoje no comando do BNDES, por um nome ligado ao presidente da Câmara. Maia já havia indicado Luciano Snel, da Icatu Seguros, para o cargo, mas não conseguiu emplacá-lo. Ele nega que tenha feito pressão pela mudança.

O governo avalia mudar o comando do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), atualmente presidido por Paulo Rabello de Castro, como uma forma de tentar agradar ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Às vésperas da votação da segunda denúncia contra Michel Temer na Casa, por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa, Maia vem demonstran­do mal-estar com o Palácio do Planalto e busca se descolar do governo, com foco na disputa eleitoral de 2018.

Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara tem usado o discurso de que é preciso uma nova agenda para o País e, com isso, almeja maior protagonis­mo na condução das decisões econômicas. Esse é, de acordo com aliados do deputado, um dos motivos dos recentes atritos com o Planalto, que tiveram seu ápice no fim de semana, após a divulgação de vídeos da delação do operador financeiro Lúcio Funaro no site da Câmara. O episódio levou a um bate-boca público entre Maia e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós.

Amigo de Temer, Rabello de Castro assumiu o BNDES em junho, após a saída de Maria Silvia Bastos Marques. À época, Maia tentou emplacar Luciano Snel, da Icatu Seguros, e ficou contrariad­o por não ter sido consultado sobre a escolha. Segundo auxiliares de Temer, a mudança no BNDES pode ser feita após a votação da denúncia, prevista para o fim deste mês no plenário da Câmara. Caso não haja acordo sobre o nome, a troca deve ser feita no início de 2018.

O presidente da Câmara nega que esteja pressionan­do o governo a trocar o presidente do BNDES. “Se o Palácio quiser trocar, que troque. Não queira colo-

car na minha conta”, afirmou Maia ao Estadão/Broadcast. “Se não fui consultado na primeira vez, não é agora que vou ser consultado”, disse. Em relação aos atritos com o Planalto, ele afirmou ontem que “esse tema está superado”.

A assessoria do banco informou que não comenta o assunto. Oficialmen­te, o Planalto afirmou que não houve nenhuma negociação para a troca do presidente do BNDES. Em conversas reservadas, Rabello de Castro diz saber que não é unanimidad­e na equipe econômica e no Congresso, mas tem respaldo de funcionári­os da instituiçã­o. Aliados de Temer lembram, no entanto, que Rabello de Castro, filiado ao PSC, quer ser candidato em 2018 à Presidênci­a da República.

De qualquer forma, interlocut­ores de Temer no Congresso afirmam que a ordem do governo é resolver todas as pendências de Maia a toque de caixa, principalm­ente em meio à tramitação da segunda denúncia. Nas palavras de um influente parlamenta­r ligado ao Palácio do Planalto, os pedidos de Maia devem ser atendidos.

Impasses. Na semana passada, Maia também se incomodou com a manobra do governo para não votar a Medida Provisória 784 que, entre outros pontos, autoriza o Banco Central a firmar leniência dos bancos. Líderes orientaram a base a não dar presença na sessão em que a matéria seria votada no plenário da Câmara. O objetivo era deixar caminho aberto para acelerar a tramitação da segunda acusação contra Temer na CCJ.

Maia fez duras críticas ao governo e chegou a dizer que não aceitaria mais MPs. Na estratégia para acalmá-lo e atender a suas demandas, o Planalto deu aval para a substituiç­ão da MP por um projeto de lei.

Um dos principais patrocinad­ores do acordo de recuperaçã­o fiscal do Rio, Maia também voltou a pressionar o Planalto para fazer deslanchar o empréstimo ao governo fluminense e pôr os salários do funcionali­smo em dia. Passado um mês e meio da assinatura do plano – concluído quando Maia ocupava a Presidênci­a da República, durante viagem de Temer à China –, o crédito ainda não foi liberado a seu Estado.

Para piorar, o conselho de supervisão criado para acompanhar a execução do plano está sendo mais duro do que o próprio Tesouro. O clima tenso com Maia fez com que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, participas­se de reunião ontem com os integrante­s do conselho.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Na Câmara. Rodrigo Maia, presidente da Casa, com o ministro do STF Alexandre de Moraes

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