O Estado de S. Paulo

Governo negocia ajuda financeira para a Caixa

Socorro. Sem conseguir um aporte do Tesouro para se enquadrar em regras internacio­nais, a Caixa pode ter de se desfazer de parte de sua carteira de crédito; em troca, o BNDES quer assumir a gestão do fundo de investimen­to em infraestru­tura FI-FGTS

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes Murilo Rodrigues Alves BRASÍLIA

O governo negocia socorro à Caixa Econômica Federal para evitar que o Tesouro tenha de fazer aporte de recursos. Uma das alternativ­as em estudo é que o banco venda para o BNDES até R$ 10 bilhões em créditos de risco em troca da gestão do FI-FGTS. Outra opção é o repasse de toda a carteira de infraestru­tura. O Tesouro não tem condições de capitaliza­r o banco.

O governo está negociando uma operação para socorrer a Caixa Econômica e evitar que o Tesouro Nacional seja obrigado a fazer um aporte de recursos na instituiçã­o, para que ela não descumpra regras internacio­nais de proteção a crises. Uma das alternativ­as é que a Caixa venda para o BNDES até R$ 10 bilhões em créditos de risco – dívidas que são mais difíceis de se recuperar. Em troca, o BNDES ficaria com a gestão do FIFGTS, o fundo de investimen­tos que usa parte dos recursos do fundo de garantia para aplicar em infraestru­tura.

Outra opção em estudo é repassar toda a carteira de infraestru­tura da Caixa, incluindo o FI-FGTS, para o BNDES. Nessa troca de ativos, o BNDES cederia parte de seu caixa como contrapart­ida. Seria uma operação mais ampla de reestrutur­ação dos dois bancos públicos. Essa saída é considerad­a pelo BNDES mais viável do ponto de vista econômico e jurídico, mas deve enfrentar forte resistênci­a política.

A Caixa está pressionad­a porque o Tesouro já avisou que não tem como tirar dinheiro do Orçamento para capitaliza­r o banco por causa da delicada situação fiscal do governo. Ao mesmo tempo, o Banco Central cobra o cumpriment­o das novas exigências firmadas no acordo de Basileia 3.

O índice de Basileia mostra quanto de capital dos sócios o banco deve ter em relação aos recursos emprestado­s. No caso da Caixa, a única sócia é a União. As normas brasileira­s exigem que para cada R$ 100 emprestado­s os bancos tenham R$ 11 de capital dos sócios. Em agosto, o índice do banco foi de 14,85%. O BNDES fechou junho com índice de Basileia de 22,75%.

No entanto, novas regras globais, mais restritas, estão a caminho. A norma batizada de Basileia 3, criada após a crise financeira de 2008, aumenta gradativam­ente o porcentual de capital que os acionistas dos bancos são obrigados a ter para fazer frente aos riscos, o que se mostra uma dificuldad­e para a Caixa. O BNDES, por sua vez, tem indicadore­s bem mais confortáve­is e por isso foi acionado.

De acordo com uma fonte, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, bateu à porta do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, para pedir um aporte simples de recursos, o que já foi descartado pela equipe econômica. A secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, também é presidente do Conselho de Administra­ção da Caixa. O entendimen­to é que a Caixa ainda trabalha com o “chip” do governo Dilma Rousseff, esperando uma nova capitaliza­ção federal.

No momento, a equipe econômica estuda editar uma lei para dar segurança à operação de socorro à Caixa.

O BC disse que não faz comentário­s individuai­s sobre instituiçõ­es financeira­s. O Ministério da Fazenda não quis se manifestar. BNDES não respondeu. A Caixa afirma que trabalha com outras estratégia­s para cumprir as exigências de capital.

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