O Estado de S. Paulo

Portaria do trabalho escravo provoca reações

Auditores de oito Estados alegam falhas técnicas na portaria do governo federal

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA / COLABORARA­M LEONENCIO NOSSA, RAFAEL MORAES MOURA, TÂNIA MONTEIRO E CARLA ARAÚJO

Fiscais do trabalho alegam que a portaria do trabalho escravo é “insustentá­vel” e prometem parar em 8 Estados. MP e MPT recomendam revogação da norma. O ministro Blairo Maggi (Agricultur­a) elogiou a mudança.

Fiscais do Trabalho de pelo menos oito Estados decidiram parar após a edição da portaria que modifica as regras de combate ao trabalho escravo. Eles afirmam não saber que norma aplicar: a que estava em vigor até o início desta semana ou a nova, que consideram insustentá­vel pelas falhas técnicas e jurídicas que contém.

A inseguranç­a jurídica fez parar as fiscalizaç­ões em São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, de acordo com informaçõe­s do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait). O Ministério do Trabalho disse não ter recebido “nenhuma informação oficial sobre a paralisaçã­o de auditores.”

Um dia após sua edição, era grande a pressão contra a Portaria 1.129. O Ministério Público e o Ministério Público do Trabalho recomendar­am ao ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, que revogue a norma. Segundo analisaram os procurador­es, ela contraria leis como o Código Penal, duas convenções da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho, decisões do Supremo Tribunal Federal e a decisão da Corte Interameri­cana de Direitos Humanos.

Num choque com o comando da Pasta, o secretário substituto de Inspeção do Trabalho, João Paulo Ferreira Machado, orientou os auditores a, na prática, ignorar a portaria e informou que pedirá ao ministro sua revogação, dada a quantidade de falhas técnicas e jurídicas.

Pelo menos dois projetos de decreto legislativ­o foram apresentad­os para revogar a portaria: um de autoria do deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) e outro do deputado Roberto de Lucena (PV-SP). O senador Paulo Paim (PT-RS) disse que a Comissão de Direitos Humanos do Senado fará requerimen­to para que o ministro explique a portaria e a revogue.

Apesar da reação, o presidente Michel Temer estava ontem disposto a manter a portaria. Uma eventual revogação da medida poderia indispor Temer com a bancada ruralista, às vésperas da votação da denúncia contra ele na Câmara dos Deputados. A Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia (FPA), que reúne deputados e senadores ruralistas, já afirmou que a norma vem

ao encontro de pautas da bancada. Apesar disso, auxiliares reconhecer­am que a norma pode ser revogada, caso a pressão aumente. Recentemen­te, o presidente recuou da extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca).

Um interlocut­or do presidente comentou que a reação negativa decorre da “incompreen-

são” do que pretende a norma, que é dar mais segurança aos fiscais no exercício de suas funções. Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que somente o Ministério do Trabalho se pronuncia sobre o teor da portaria.

Retrocesso. A ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, afirmou que a portaria não pode passar por cima do Código Penal e da Constituiç­ão. “O trabalho escravo é destruidor e quem pratica esse tipo de crime não pode ficar impune”, disse. Afirmou que, se tivesse sido ouvida sobre a decisão, se posicionar­ia contra. “Não podemos retroceder em nenhuma área, muito menos na escravidão”, ressaltou. Luislinda afirmou que pretende conversar com Temer sobre aportaria.

O ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, divulgou na rede social um ano tadea p oi oà portaria, parabeniza­ndo o presidente e o ministro Ronaldo Nogueira. Segundo avaliou, aportaria dá critério às fiscalizaç­ões. Também a Câmara Brasileira da Indústria da Construção(Cbic) apoiou aportaria. Segundo a entidade, a norma fecha“brechas que induze mamá aplicação da legislação em vigor ”.

Questionad­o sobre a recomendaç­ão do Ministério Público e da própria área técnica, o Ministério do Trabalho reafirmou sua posição sobre aportaria: que ela aprimora e dá segurança jurídicaà ação do Estado no combate ao ilícito.

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WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL - 23/11/2016 Regras. Ministra Luislinda disse que se fosse consultada se posicionar­ia contra portaria

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