Desmate na Amazônia cai 16%, estima Inpe
Período de agosto do ano passado a julho de 2017 registrou perda de 6.624 km2; apesar da queda, valor está longe de meta para 2020
O governo anunciou queda de 16% na taxa oficial de desmatamento da Amazônia. O número é estimativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e se refere ao período de agosto de 2016 a julho de 2017 ante o intervalo anterior.
Após uma sequência de críticas por estar promovendo retrocessos ambientais, o governo federal anunciou ontem uma queda de 16% no desmatamento da Amazônia. Os números são uma estimativa do sistema oficial de monitoramento da Amazônia, o Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e se referem ao período de agosto do ano passado a julho de 2017, em comparação com o intervalo anterior. No ano, houve o corte raso – quando a cobertura vegetal é totalmente removida – de 6.624 km2.
O governo destacou o fato de a taxa representar diminuição de 76% em relação ao que foi registrado em 2004, ano que teve a maior perda florestal no século 21. De fato, a queda ocorre depois de dois anos consecutivos de alta, que juntos soma- ram mais de 50% de aumento.
O valor atual, porém, ainda é o segundo mais alto da década. A partir de 2008, houve sucessivas quedas da taxa de desmatamento, chegando ao menor nível em 2012, quando foram cortados 4.571 km2 de floresta.
Depois disso, a taxa começou a flutuar, entrando em curva ascendente a partir de 2015. E, apesar da queda registrada agora, o Brasil continua longe de cumprir a meta da lei nacional sobre mudanças climáticas, de 2009, que estabeleceu como objetivo que a devastação diminua a 3.900 km2 até 2020.
Os novos dados foram anunciados pelos ministros Sarney Filho (Ambiente) e Gilberto Kassab (Ciência) sem convocação de coletiva da imprensa especializada – praxe nos últimos anos –, após terem informado o presidente Michel Temer sobre os números. A opção por esse formato, disse Sarney depois ao Estado, foi do próprio Palácio.
Tanto Sarney Filho quanto auxiliares do presidente destacaram o resultado como o primeiro concreto do governo Temer, já que coincide com o período de um ano do presidente e seria um contraponto em relação aos governos petistas.
Motivos. Em entrevista ao Estado, Sarney Filho afirmou que, se por um lado, os motivos para a alta do desmatamento podem ser muitos, o que leva à queda é algo mais simples. “É contido basicamente por comando e controle com vigor e força, que foi o que adotamos com a recomposição do orçamento do Ibama e do ICMBio ( que fazem a fiscalização).”
Questionado sobre o fato de a taxa ainda ser alta, Sarney Filho disse que o importante é ter havido reversão da curva. “Estamos na política correta. Enquanto conseguirmos manter a presença do Estado brasileiro na floresta, vamos conseguir controlar.”
Sobre os sinais passados pelo governo e pelo Congresso com projetos de redução de unidades de conservação (UCs), como a Floresta Nacional de Jamanxim, no Pará, e a proposta de cancelar a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), no Amapá, o ministro afirmou que não há retrocesso. Ainda disse que o desmate em Jamanxim, que já foi o mais alto em unidades de conservação, caiu cerca de 50% neste ano.
“Desde que sejam só propostas ( do Congresso), a possibilidade de influenciar lá na ponta é pequena. Cada um pode propor o que quiser, mas graças a Deus a sociedade está muito atenta. A reação à Renca mostrou que mexer com a Amazônia não vai ser fácil”, disse o ministro
Após críticas à medida provisória que previa reduzir a Floresta Nacional de Jamanxim, aprovada pelo Congresso em maio, o governo vetou a proposta. Mas enviou projeto de lei ao Congresso, em julho, que prevê reduzir a área em 349 mil hectares. Em relação à Renca, o governo federal revogou o decreto que extinguia a reserva em setembro e prometeu retomar o debate “mais à frente”.
Cautela. Para ambientalistas, a queda é importante, mas ainda não dá para comemorar. “O desmatamento foi 49% maior que a menor taxa histórica, em 2012. E a queda foi, em parte, por causa da recessão. Houve queda de preço do gado e a pecuária é a principal causa do desmatamento”, avaliou Paulo Barreto, do Imazon.