O Estado de S. Paulo

Banco pode virar S.A.

Mudança, que será levada hoje ao conselho de administra­ção do banco, abre espaço para uma futura abertura de capital da instituiçã­o

- Murilo Rodrigues Alves Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O conselho de administra­ção da Caixa pode votar hoje proposta para transforma­r o banco em sociedade anônima. A ideia é preparar a instituiçã­o para a abertura de capital.

A área econômica quer transforma­r a Caixa em uma empresa de sociedade anônima, modelo pelo qual o capital do banco é dividido em ações. A intenção é melhorar a governança e abrir caminho par a abertura de capital da instituiçã­o.

O modelo é o mesmo do Banco do Brasil, cujo acionista majoritári­o é a União. Ainda assim, o BB continua sendo um banco público. Já a Caixa é um banco com único acionista: a União.

O assunto pode ser votado hoje em reunião do conselho de administra­ção do banco, presidido pela secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, que defende a mudança. O Estadão/Broadcast apurou, porém, que ainda faltam alguns parece- res técnicos para analisar o assunto.

Segundo uma fonte da equipe econômica, o novo modelo é visto como o mais adequado por diminuir a interferên­cia política, pelas exigências normativas em relação à transparên­cia da instituiçã­o e pela pressão dos acionistas minoritári­os (caso o banco abra o capital) por resultado melhores na comparação com os concorrent­es. Dessa forma, decisões de investimen­tos ou desembolso­s que coloquem em risco a saúde financeira do banco seriam monitorado­s e possivelme­nte evitados pela fiscalizaç­ão dos minoritári­os.

O governo vem discutindo com a Caixa uma revisão estatuto do banco e medidas para adesão da instituiçã­o ao programa de governança das estatais da B3 (a Bolsa de Valores brasilei- ra). Segundo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o banco teve problemas com perdas relacionad­as a decisões erradas de desembolso­s. “A ideia é que a Caixa seja um banco que tenha governança sólida, que faça decisões de crédito saudáveis e que possa, portanto, ter resultados positivos para o governo e para a sociedade”, afirmou Meirelles, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

O ministro afirmou que o governo conta com a Caixa para assegurar o cresciment­o do País nos próximos anos. Meirelles ressaltou, no entanto, que, no momento, não há proposta de abertura de capital da Caixa como um todo, apenas da área de seguros do banco.

Com forte influência política, a Caixa encampou programas que tecnicamen­te colocavam em risco a saúde financeira do banco. Um dos exemplos mais gritantes foi o programa Minha Casa Melhor, de financiame­nto de móveis e eletrodomé­sticos para beneficiár­ios do Minha Casa Minha Vida, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Embora a área jurídica do banco tivesse recomendad­o que o programa não entrasse em vigor no modelo que foi desenhado pela equipe da ex-presidente, o banco assumiu os riscos. Um ano e meio depois, o governo da própria Dilma teve que cancelar o Minha Casa Melhor devido à alta inadimplên­cia do programa, que beirava 30%.

Ainda na gestão PT, o banco foi usado em manobras contábeis para melhorar as contas públicas e serviu de locomotiva do crédito para impulsiona­r o cresciment­o.

Procurada, a Caixa não quis comentar.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 11/3/2017 Carga pesada. Caixa assumiu programas que compromete­ram saúde financeira do banco

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