O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- Eliane Cantanhêde

Aécio recupera o mandato e o direito de ir e vir à noite, mas continua alvo de nove inquéritos.

Oscript traçado com aval do comando do Senado foi cumprido à risca pelo plenário e, como previsto desde o início, o resultado foi apertado, mas contra a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e a favor do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Ele recupera o mandato, o passaporte e o direito de ir e vir à noite, mas continua alvo de nove inquéritos.

Termina a primeira temporada, mas a série não terminou. O Supremo jogou o pro- blema para o Senado, o Senado devolveu para o Supremo, o Supremo mandou de volta para o Senado e, ontem, o Senado jogou o desfecho no colo do Supremo.

Os 44 senadores que restaurara­m o mandato de Aécio argumentar­am com a Constituiç­ão e a independên­cia entre os Poderes. Os que votaram contra justificar­am com a impunidade e as evidências contra Aécio. Pairando sobre todos, uma ameaça velada de Aécio: “Eu sou vocês amanhã”.

Por trás desse script e desse desfecho estiveram todo o tempo dois personagen­s-chave: os presidente­s do Senado, Eunício Oliveira, e do Supremo, Cármen Lúcia – que entrou no alvo das críticas e da desconfian­ça da opinião pública por ir além do papel de juíza para assumir o protagonis­mo de presidente de um Poder, com a complexa responsabi­lidade de evitar uma crise institucio­nal, num momento já tão dramático.

Assim como conversa abertament­e com o presidente do Senado, Cármen Lucia abriu seu gabinete também para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, outro engajado na estabilida­de das instituiçõ­es. Pagou injustamen­te o pato, inclusive, pela divulgação no site da Câmara da delação do operador do PMDB Lúcio Funaro.

Diante das dúvidas de sua assessoria técnica, Maia consultou Cármen Lúcia, que respondeu formalment­e: o relator, no caso o ministro Edson Fachin, é a autoridade máxima e única. Só ele poderia se manifestar.

Em sendo assim, Cármen, Maia e Fachin se reuniram, na presença do assessor da Câmara, e foi aí que Fachin liberou a divulgação no site da Câmara. Logo, se houve um ataque ao presidente Temer, não partiu de Rodrigo Maia.

A política brasileira está em chamas, mas há de se reconhecer que as instituiçõ­es funcionam, resistem a duras penas às tentações populistas e sabem que jogar gasolina na fogueira só vai gerar cinzas.

A mesma maturidade para evitar a crise, porém, deve prevalecer para investigar, julgar e punir os que tiram do público para encher malas, contas e apartament­os privados. Evitar crises, sim. Garantir impunidade de culpados, não mais. O encontro de Aécio com a Justiça é apenas uma questão de tempo.

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