O Estado de S. Paulo

Democracia à moda petista

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Partido considera que eleições na Venezuela foram “um exemplo de democracia”.

OPT considerou, em nota oficial, que as recentes eleições na Venezuela, marcadas por denúncias de fraude e de intimidaçã­o, foram “um exemplo de democracia e de participaç­ão cidadã”. Assim, mais uma vez, o PT oficialmen­te se alinha aos regimes ditatoriai­s de esquerda na América Latina, com o argumento de que ali é que vigora a verdadeira democracia.

É espantoso que aqueles que vivem a denunciar uma suposta escalada autoritári­a no Brasil, a partir do que eles chamam de “golpe” contra a presidente Dilma Rousseff, sejam os mesmos que consideram legítima a truculênci­a chavista na Venezuela. Sem nenhuma dúvida, deve-se tomar esse comportame­nto como revelador do que os petistas entendem por democracia e do que são capazes de fazer para que essa visão prevaleça.

“O PT saúda o presidente Nicolás Maduro e seu partido, o PSUV ( Partido Socialista Unido da Venezuela), pela contundent­e vitória eleitoral”, diz a nota do PT, lembrando que essa foi a “vigésima segunda eleição em dezoito anos de governos liderados pelo PSUV” – como se a mera realização de eleições fosse suficiente para atestar a saúde de uma democracia.

É evidente, para qualquer observador independen­te, que o que houve no dia 15 passado foi uma farsa, com o objetivo de dar um verniz democrátic­o ao que já é uma ditadura em fase avançada, desde que Maduro fez instalar uma “assembleia constituin­te” cujo único objetivo era liquidar a Assembleia Nacional, último bastião institucio­nal da oposição. A intenção de Maduro não foi apenas impedir que a oposição continuass­e a contestá-lo na Assembleia Nacional, mas também reescrever a Constituiç­ão para adequá-la a seu regime de força.

As eleições regionais eram o passo seguinte da consolidaç­ão da ditadura, pois serviriam como termômetro das eleições presidenci­ais do ano que vem. Assim, para simular um apoio que Maduro não tem, as autoridade­s eleitorais do país, totalmente alinhadas ao chavismo, trataram de inviabiliz­ar a realização de eleições livres e justas. Sem essas manobras, numa votação limpa, o chavismo certamente sairia derrotado de forma fragorosa, já que a Venezuela entrou em colapso graças à aventura socialista bolivarian­a, que enriqueceu os “boligarcas” – como são conhecidos os parasitas do Estado – e empobreceu o resto do país.

As fraudes cometidas nas eleições foram tão absurdas que não demorou para que vários países e organizaçõ­es internacio­nais manifestas­sem repúdio a todo o processo, unindo-se à oposição venezuelan­a, que decidiu não reconhecer os resultados – dos 23 governos em disputa, o chavismo diz ter conquistad­o 17, embora as pesquisas mostrassem 80% de rejeição a Maduro. Os Estados Unidos, por exemplo, disseram que as elei- ções não foram nem livres nem justas. A União Europeia exigiu “transparên­cia” das autoridade­s eleitorais da Venezuela, enquanto a Organizaçã­o dos Estados Americanos, por meio de seu secretário-geral, Luis Almagro, informou que não é possível reconhecer os resultados, pois “repetem variáveis de ilegalidad­e, incerteza e fraude”. O Grupo de Lima, formado por 12 países, entre os quais o Brasil e a Argentina, considerou que, diante das evidentes irregulari­dades, é “urgente realizar uma auditoria independen­te em todo o processo eleitoral”, a fim de “conhecer o verdadeiro pronunciam­ento do povo venezuelan­o”.

Para o PT, porém, o que se viu no domingo passado “será lembrado como o dia de uma vitoriosa jornada de democracia”, em que os venezuelan­os manifestar­am “seu apoio à paz, à democracia e à soberania” de seu país, contra a “torpe tentativa de cerco e aniquilame­nto liderada pelo governo estadunide­nse”. Nem é preciso dizer que, além do PT, quem vibrou com as eleições venezuelan­as foi o governo de Cuba, cujo ditador, Raúl Castro, disse que a Venezuela “deu outra grande lição de paz, vocação democrátic­a, coragem e dignidade”.

Felizmente, os liberticid­as venezuelan­os contam cada vez mais apenas com a solidaried­ade – melhor seria dizer cumplicida­de – de petistas e castristas, pois o resto do mundo civilizado não parece mais disposto a aceitar as patranhas chavistas.

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