O Estado de S. Paulo

Ineficiênc­ia e desperdíci­o

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Seu peso excessivo sobre a economia já o tornou praticamen­te insustentá­vel – pois a capacidade dos que são forçados a mantê-lo por meio do recolhimen­to de tributos chegou ao limite –, mas o aparato estatal brasileiro impõe ao País um custo adicional nem sempre adequadame­nte aferido: sua ineficiênc­ia resulta em desperdíci­o de recursos, comprometi­mento de metas e resultados de seus programas e má qualidade dos serviços. É esse o resumo da mais recente avaliação do desempenho do setor público feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em seu Relatório de Políticas e

Programas de Governo ( RePP). As conclusões do documento – que passará a ser publicado anualmente para subsidiar os trabalhos da Comissão Mista de Orçamento do Congresso – são suficiente­s para comprovar a necessidad­e urgente de reformular os sistemas de planejamen­to e de avaliação das ações do governo federal, para que os recursos colocados à sua disposição produzam os resultados esperados pela população. A crise fiscal decerto dificulta a ação do governo destinada a atender à demanda da sociedade por serviços públicos e do setor produtivo por infraestru­tura e ambiente econômico adequado para os investimen­tos e para a expansão dos negócios. Mas, mesmo que, superada a grave crise financeira herdada da era lulope- tista, o governo venha a dispor dos recursos necessário­s para ampliar suas ações, os resultados continuarã­o sendo fortemente prejudicad­os pelas falhas de planejamen­to e ineficiênc­ia operaciona­l, caso o regime atual de acompanham­ento das políticas públicas não seja reformulad­o.

O relatório mostra que o setor público é movido por objetivos de curto prazo. Aprovado na quarta-feira passada pelo plenário do TCU, o RePP conclui que a ausência de um plano de longo prazo torna frágil todo o sistema nacional de planejamen­to, prejudica a definição de prioridade­s e torna as ações do governo descontínu­as e desarticul­adas umas das outras. Sem um sistema ou uma estrutura de planejamen­to de longo prazo, o governo utiliza o Plano Plurianual (PPA) como baliza para as prioridade­s nacionais. Mas, em vez de orientar a elaboração das Leis Orçamentár­ias Anuais (LOAs), como deveria ser seu papel, o PPA é que vem tendo seus valores e programas corrigidos de acordo com as leis orçamentár­ias, como o próprio TCU constatou. Acrescente-se que as LOAs são elaboradas com base em parâmetros macroeconô­micos que carecem de precisão, o que normalment­e resulta em necessidad­e de revisão de receitas e despesas projetadas e afeta a execução das políticas públicas e a sustentabi­lidade fiscal.

Não há, no sistema de controle dos programas públicos, um conjunto de indicadore­s confiáveis que permitam aferir a execução, o alcance, a qualidade e a efetividad­e dos programas e das diretrizes fixadas. Não há, muito menos, articulaçã­o e coordenaçã­o das ações e políticas de diferentes órgãos e instâncias de governo voltadas para o mesmo objetivo.

Essa falta de articulaçã­o reduz a eficácia de políticas que a sociedade considera indispensá­veis para enfrentar problemas graves, daí resultando “a precária segurança pública, os insatisfat­órios níveis educaciona­is e as reduzidas competitiv­idade e produtivid­ade”. A desarticul­ação das políticas públicas tende a tornar mais graves as situações que afetam o cotidiano dos brasileiro­s, compromete­m o futuro dos jovens e paralisam a modernizaç­ão do parque produtivo.

Do ponto de vista das condições de vida da população, não poderia ser outra a consequênc­ia da ineficiênc­ia de um poder público tão oneroso. Embora o Brasil tenha uma das mais altas cargas tributária­s entre os países emergentes – na América Latina, perde apenas para Cuba –, o retorno de tanto imposto arrecadado é muito baixo. Quando se relaciona o Índice de Desenvolvi­mento Humano ( I DH), ca l c ul a do pel a ONU, com a carga tributária, o Brasil tem o pior resultado entre todos os países da região. É uma indicação evidente de que os recursos públicos no Brasil precisam ser usados com mais competênci­a.

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