O Estado de S. Paulo

PSOL articula Boulos para Presidênci­a

Após desistênci­a do deputado Chico Alencar, dirigentes da sigla já falam explicitam­ente no nome do líder dos sem-teto para a disputa de 2018

- Ricardo Galhardo Pablo Pereira

O líder do Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (sem partido), entrou na mira do PSOL para disputar a Presidênci­a da República nas eleições do próximo ano. Após o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) declinar da possibilid­ade de disputar o Palácio do Planalto, lideranças do partido que evitavam falar abertament­e no nome de Boulos por respeito ao parlamenta­r passaram a defender o líder dos sem-teto como representa­nte da sigla na disputa de 2018.

Depois de três meses de consultas e avaliações, Alencar anunciou anteontem que não vai disputar a Presidênci­a – ele prefere se candidatar a senador pelo Rio. “O PSOL vai fazer uma sinalizaçã­o em direção ao Boulos. Ele tem posições ideológica­s e programáti­cas bastante próximas do partido e agora devemos convidá-lo para uma reunião da direção”, disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

Em entrevista à TV Estadão,

ontem, Boulos evitou o assunto, mas não admitiu nem descartou a possibilid­ade de se candidatar pelo PSOL. “Nesse momento estou focado em ajudar a organizar o processo de resistênci­a ao desmonte do governo ( Michel)

Temer em relação aos direitos sociais, fazendo mobilizaçõ­es como, por exemplo, a ocupação em São Bernardo do Campo e também em um debate mais amplo de projeto para o País”, disse.

Desde o fim de julho, Boulos tem se dedicado ao Vamos!, uma plataforma inspirada no Podemos, da Espanha, e a Geringonça, de Portugal. O grupo reúne setores do PT, PSOL e PC do B, além de militantes de organizaçõ­es de esquerda não partidária­s para a discussão de um programa para 2018.

Líderes da esquerda, até mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, viram na iniciativa uma tentativa de criar um caminho alternativ­o para a esquerda desgastada com as denúncias de corrupção envolvendo o PT e com a queda da presidente cassada Dilma Rousseff.

Boulos, que é admirador declarado do Podemos espanhol, negou que o objetivo do Vamos! seja eleitoral. No início de novembro, o Vamos! vai trazer ao Brasil a socióloga Marisa Matias, candidata derrotada à presidênci­a de Portugal pelo Bloco de Esquerda, o sociólogo Boaventura de Souza Santos, entusiasta da Geringonça, e o secretário de Movimentos Sociais do Podemos, Rafa Maioral.

Anti-Bolsonaro. Na entrevista à TV Estadão, Boulos fez duras críticas à provável candidatur­a do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à Presidênci­a, representa­nte da extrema-direita na corrida eleitoral do próximo ano. Segundo Valente, é natural que o candidato do PSOL polarize com Bolsonaro.

De acordo com Valente, o objetivo do PSOL ao buscar Boulos é ampliar o alcance eleitoral do partido para outros setores da esquerda e deverá fazer exigências caso ele aceite o convite. “A possibilid­ade de filiação

dele é uma opção política e partidária e vai exigir compromiss­os de longo e médio prazos”, disse.

O PSOL não quer esperar a definição sobre a candidatur­a de Lula e deve cobrar de Boulos uma resposta até no máximo o início de 2018. Embora parlamenta­res do PSOL digam que a maioria do partido apoia a filiação do líder dos sem-teto, a pré-candidatur­a de Boulos já enfrenta resistênci­as. “Boulos atua no espectro do PT. Não amplia para o PSOL e nos coloca em uma situação ambígua”, disse o professor universitá­rio Nildo Ouriques, que se apresentou como pré-candidato do PSOL para 2018.

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FELIPE RAU/ESTADÃO TV Estadão. Em entrevista, Boulos não admitiu nem descartou candidatur­a

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