O Estado de S. Paulo

Doria faz gesto de aproximaçã­o com deputados ruralistas

Prefeito, que tenta ser candidato a presidente, evitou falar sobre temas polêmicos como portaria sobre trabalho escravo

- Leonencio Nossa / BRASÍLIA

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), em almoço fechado com 32 deputados da Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia (FPA), ouviu ontem reclamaçõe­s contra ambientali­stas, Ministério Público e setores do governo. Ao falar, citou a história dos sogros, que, segundo ele, tiveram as terras em Pinhalzinh­o, no oeste catarinens­e, ocupadas pelo Movimento Sem Terra (MST).

Em entrevista logo depois, porém, Doria se esforçou para não entrar nas polêmicas ambientais e sociais do campo. “O debate ideológico não é útil para o meio ambiente, para moradores e para o setor produtivo”, afirmou.

Ao ser questionad­o por jornalista­s sobre a portaria do Ministério do Trabalho que dificulta a atuação dos fiscais que combatem o trabalho escravo, publicada anteontem, o prefeito pas- sou a palavra para o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), que fez um discurso de defesa da medida. “Eu endosso plenamente as posições apresentad­as pelo deputado Nilson Leitão, que é do nosso partido. A posição do deputado é a posição que eu endosso”, disse Doria após insistênci­a dos jornalista­s para falar sobre o tema.

Rodeado de ruralistas, o prefeito defendeu a moderação no debate sobre redução de áreas ambientais, sem, no entanto, endossar a posição ruralista. “Eu sou moderado. O acirrament­o não é construtiv­o. É preciso equilíbrio e moderação para construirm­os um novo País”, disse. Na entrevista, Doria afirmou que o setor do agronegóci­o está “maduro” e precisa de mais incentivos públicos.

O prefeito, que recebeu convite para jantar ontem no Palácio do Jaburu com o presidente Michel Temer, ao ser questionad­o sobre a crise política, disse que se trata de um problema “circunstan­cial”.

Na parte fechada do encontro, Doria repetiu que está “preparado” para o enfrentame­nto de ideias com o PT, afirmou que o partido “enterrou” e “prejudicou” a economia, e minimizou críticas a suas viagens pelo País.

Pedidos. A Doria, deputados ruralistas reclamaram da imprensa e da modelo Gisele Bündchen, que fez campanha nas redes sociais contra o fim da Reserva Nacional do Cobre, a Renca, que fica entre o Amapá e o Pará. “O senhor que é da área da comunicaçã­o, olhe o que a Gisele fez, o mundo inteiro está contra nós”, reclamou o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS).

Um dos pedidos surpreende­u o prefeito. A deputada mineira Raquel Muniz (PSD) pediu para ele mandar água para a região de Montes Claros. “Eu clamo ao senhor, na condição de prefeito de São Paulo, por água para o norte de Minas Gerais, que enfrenta estiagem”.

Também foram feitos pedidos para ele apoiar a exploração de diamantes em terras indígenas e apoio no governo Temer para o setor. Alceu Moreira (PMDB-RS) pediu que Doria entrasse na “luta” contra os “ambientalo­ides” e o movimento indígena. “Não tem nada de esquerda ou direita. O que há é o interesse dos americanos”, avaliou o parlamenta­r.

Deputados ruralistas também criticaram o governo que, segundo eles, podia fazer ainda mais pelo setor. “O governo só atrapalha”, disse a deputada Tereza Cristina (PSB-MS), no momento em que elogiava o “surgimento” de uma “nova liderança” como Doria. Ela ainda disparou contra os petistas. “O PT faz papel de bom moço no plenário na Câmara como se não ti-

vesse responsabi­lidade sobre a situação atual.”

Deputados ouvidos pelo Estado avaliam como positiva a aproximaçã­o de Doria com o agronegóci­o e elogiaram a capacidade de “comunicaçã­o” do prefeito. Eles, no entanto, ressaltara­m que o agronegóci­o tem uma relação “antiga” com Geraldo Alckmin, com quem almoçaram no começo do mês, e a quem definem como um “conhecedor” e um “interlocut­or” da área. “Não trouxemos concorrent­es para almoçar”, disse Leitão. “Trouxemos o prefeito da maior cidade do País e o governador”, afirmou.

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JOÉDSON ALVES/EFE Esplanada. Sem-terra colocam faixa na frente do Ministério do Planejamen­to em Brasília

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