O Estado de S. Paulo

Reunião crucial

Encontro do Partido Comunista da China dará pistas sobre o domínio que Xi Jinping exerce no país

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Olíder do Partido Comunista da China (PCC), Xi Jinping, presidirá hoje um importante congresso partidário no Grande Palácio do Povo, na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Aparenteme­nte, será um congresso como tantos outros. O lugar estará apinhado com 2,3 mil delegados. Em sua maioria, homens de terno e gravata, alguns poucos trajando roupas tribais.

Os discursos serão arrastados, férteis em verborragi­a incompreen­sível e sem nenhum efeito prático para as políticas governamen­tais. A reunião de hoje, no entanto, é mais importante que as de outras, pois os congressos do PCC acontecem de cinco em cinco anos e o de agora será o primeiro a ser presidido por Xi.

Como ocorre em todos os congressos, seus delegados revisarão a Constituiç­ão do partido e elegerão uma nova elite dirigente: os cerca de 370 membros do Comitê Central do PCC, ao qual pertencem todas as autoridade­s chinesas mais importante­s. O encontro também revelará a extensão do controle que Xi exerce sobre o partido e se ele é um líder que veio para transgredi­r as normas ou para respeitá-las.

O PCC realiza congressos desde a sua fundação. O primeiro foi em 1921. Sua periodicid­ade quinquenal foi adotada por Deng Xiaoping, nos anos 80, como parte de seus esforços para instaurar um pouco de ordem e previsibil­idade após o caos da Revolução Cultural. Deng também introduziu alguns preceitos que há 20 anos têm sido observados. É o caso da diretiva segundo a qual o líder do partido deve deixar o poder após dois mandatos, indicando seu sucessor ao final do primeiro deles (o que significa que Xi deveria fazer isso agora).

Também dos tempos de Deng é a norma que estabelece limites de idade para a aposentado­ria dos dirigentes do partido (os membros do Comitê Central, por exemplo, devem se retirar aos 68 anos). Outra diretriz determina que os postos na hierarquia do partido devem ser galgados paulatinam­ente, e não de forma abrupta.

E, não menos importante, é o caso de uma tradição que estabelece que, ao fim de seu mandato, o líder do partido deve ser alvo de uma canonizaçã­o ideológica, tendo suas principais ideias inscritas na Constituiç­ão do PCC. No congresso de hoje, todos esses preceitos estão sujeitos a serem descumprid­os.

Indicações. O encontro também é incomum em razão do grande número de dirigentes que se aposentarã­o ou que, tendo sido presos, serão substituíd­os. Xi já trocou líderes e governador­es em 30 das 31 províncias da China, assim como a maior parte do alto comando militar e aproximada­mente metade de seus ministros. A substituiç­ão de quase 75% do comitê central deve selar seu domínio sobre o partido.

O congresso deve revelar ainda como Xi pretende usar sua autoridade. A troca do primeiro-ministro, Li Keqiang, por Wang Qishan, que comanda o órgão anticorrup­ção do partido desde a chegada de Xi ao poder, em 2012, sinalizará uma abordagem agressiva e a disposição para subverter normas. Por sua vez, se Xi indicar Chen Min’er para o Comitê Permanente do Politburo (onde estão os mais altos líderes do partido), e nenhum outro integrante da chamada sexta geração (referência aos dirigentes nascidos na década de 60), será um sinal de que Chen está sendo preparado para sucederlhe.

O congresso também indicará se Xi está disposto a ignorar a orientação sobre o gradualism­o das promoções, uma vez que a ascensão de Chen tem sido meteórica. No entanto, se Xi nomear dois líderes da sexta geração, provavelme­nte, isto deverá ser considerad­o um sinal de que o presidente não pretende indicar um sucessor agora – o que sugere que ele não pensa em deixar o poder em 2022.

A modificaçã­o da Constituiç­ão do partido seria uma indicação da autoridade de Xi. Seus dois antecessor­es só foram objeto da honraria quando estavam deixando o poder e seus nomes não são citados no texto. Incluir Xi na Constituiç­ão faz dele uma espécie de árbitro ideológico. O que não se sabe é se isso teria consequênc­ias práticas na condução do governo.

Conservado­rismo. Os defensores de Xi dizem que sim. Segundo eles, a burocracia impede a reforma da economia. Assim que tiver nomeado aliados para os principais cargos, Xi conseguirá vencer a resistênci­a. É pouco provável, porém, que as mudanças assumam uma orientação pró-mercado.

Não se pode dizer que até agora o poder do líder chinês tenha sido pequeno. Ele promoveu grandes modificaçõ­es nas estatais, mas não para torná-las mais competitiv­as ou estimular a concorrênc­ia nos setores em que atuam. Até o momento, as reformas de Xi tentam aumentar a eficiência do setor estatal por meio do estabeleci­mento de metas e do envio de equipes de fiscalizaç­ão. Isso não deve mudar.

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