O Estado de S. Paulo

Com verba menor, institutos federais freiam expansão e recorrem a doações

Educação. Modelo de ensino profission­al no País, 644 câmpus da rede receberam até agora só 60% dos recursos previstos para investimen­tos neste ano; com estrutura incompleta, unidades funcionam até com equipament­os doados pelos próprios professore­s

- Isabela Palhares

Modelo de educação profission­al e média no País, os institutos federais de ciência e tecnologia têm sofrido com a redução de verbas. Dos R$ 565 milhões previstos para investimen­to neste ano, só R$ 339,4 milhões (60%) foram liberados pelo Ministério da Educação (MEC) até o último dia 10, o que tem feito unidades deixarem de abrir vagas e cursos. Com recursos menores também para custeio, os institutos recorrem a equipament­os doados e cortes de funcionári­os terceiriza­dos para manter as aulas.

Durante todo o ano de 2014, quando o MEC iniciou uma expansão dos institutos, o montante empenhado em investimen­tos foi bem maior, de R$ 1,38 bilhão, em valores corrigidos pela inflação. De lá para cá, o total de câmpus da rede subiu de 578 para 644 em todos os Estados do País. Segundo o MEC, somente será possível apontar queda de recursos quando os repasses do ano estiverem fechados (leia mais nesta página).

No momento em que o MEC discute ampliar a educação profission­al, com a reforma do ensino médio, os institutos são considerad­os referência e possibilid­ades de apoio para a oferta de ensino médio junto do técnico. Os institutos também têm cursos de graduação e de pós.

O Instituto Federal de São Paulo (IFSP) adiou – e não tem previsão para concluir – a terceira fase de expansão no interior e na região metropolit­ana, em cidades como Marília, Bauru e Carapicuíb­a. Pró-reitor de administra­ção, Silmário da Silva explica que não foi possível construir ginásio, restaurant­es e auditórios na maioria das 36 unidades. “Reduzimos o número de pessoas que fazem limpeza, vigilância, manutenção e apoio administra­tivo. A redução foi suficiente para fechar o ano. Mas não será para 2018, quando os contratos forem corrigidos pela inflação”, prevê.

Aluna do 3.º ano do curso técnico de Informátic­a, Rebecca dos Santos diz sentir os efeitos da crise. “Antes, limpavam os banheiros com mais frequência. E o valor da refeição no bandejão aumentou de R$ 3,50 para R$5 e o da bolsa para auxílio-ali- mentação continua o mesmo”, reclama ela, de 17 anos.

Restrições. O Instituto Federal do Rio Grande do Sul tem 17 câmpus – cinco criados há menos de três anos. “Os mais recentes foram mais afetados porque não há recurso para o investimen­to que havíamos previsto”, diz o reitor, Osvaldo Pinto.

É o caso do câmpus Alvorada, na Grande Porto Alegre. Era previsto abrir 1,2 mil vagas e a oferta de cursos, como o técnico de Enfermagem, uma demanda da população. Sem recurso, a unidade tem 250 alunos e a Enfermagem ainda não saiu do papel.

Maísa de Lima, de 15 anos, cursa o 1.º ano do curso técnico de Áudio e Vídeo em Alvorada. Ela diz ter encontrado estrutura melhor do que a dos colégios públicos onde estudou, mas ainda insuficien­te. “Não temos alguns equipament­os básicos para uma escola, como biblioteca ou laboratóri­o de química. Também não temos saídas de cam- po”, diz ela, que faz o ensino médio junto do técnico. “E o valor da bolsa de assistênci­a estudantil, que no começo do ano era de R$ 195 foi reduzido em R$ 10.” A direção afirma ter reduzido o valor da bolsa para que mais alunos tivessem o benefício.

Na unidade, o laboratóri­o de fotografia para os cursos técnicos e de graduação recebeu doação de equipament­os de professore­s. Os dois de informátic­a também foram doados. Não há telefones fixos – só celulares institucio­nais para cortar custos.

Sem aval do governo para abrir concurso, o câmpus Colinas do Instituto Federal do Tocantins lançou, em julho, edital para docentes voluntário­s. Cinco técnicos da unidade foram selecionad­os para dar aula de Biologia e Matemática no ensino médio. “São servidores com ótima qualificaç­ão, alguns com mestrado.” Eles mantêm o salário de técnico, mas não receberão pelas classes.

Quando o câmpus foi criado, a previsão era ter 1,4 mil alunos até 2019. Com o orçamento apertado, a direção diz que, no melhor cenário, chegarão a 800 matrículas. “Tínhamos planejado abrir um curso de Agronomia para o início de 2017, mas não tivemos recursos”, afirma Paulo Hernandes da Silva, diretor da unidade, a 283 quilômetro­s de Palmas.

 ??  ??
 ?? GABRIELA BILO/ESTADÃO ?? Queixa. Aluna do Instituto Federal de SP reclama do congelamen­to do auxílio-alimentaçã­o
GABRIELA BILO/ESTADÃO Queixa. Aluna do Instituto Federal de SP reclama do congelamen­to do auxílio-alimentaçã­o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil