O Estado de S. Paulo

Agosto fraco não muda tendência de retomada

De acordo com economista, indicadore­s negativos no comércio, indústria e no setor de serviços são pontuais e mostram que recuperaçã­o será lenta

- Luciana Dyniewicz

Os recuos registrado­s em agosto por alguns dos principais indicadore­s de atividade econômica do País são vistos por economista­s como um “tropeço” da recuperaçã­o brasileira, e não como uma tendência. No mês, a indústria retrocedeu 0,8%, o varejo, 0,5% e os serviços, 1%, na comparação com julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). “Estamos em um estágio inicial de recuperaçã­o. É natural que isso ocorra”, disse a economista-chefe da XP Investimen­tos, Zeina Latif.

Para os economista­s ouvidos pelo Estado, o resultado de agosto não muda a tendência de recuperaçã­o, mas indica que a retomada é frágil e com um ritmo bastante lento, em parte por causa das incertezas do cenário político. Na avaliação deles, há uma melhora nos fundamento­s econômicos que deverá permitir que, nos próximos meses, os indicadore­s voltem a ser positivos.

“Agosto foi pontual. Até julho, teve o impacto da liberação (dos recursos das contas inativas) do FGTS. Aí, quando olhamos para agosto, pode parecer que a economia andou de lado ou até que teve uma queda. Mas uma certa acomodação após o impacto do FGTS é natural”, afirmou a economista Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroecono­mia e política da Tendências.

Para ela, a liberação do FGTS não foi o único propulsor da economia no começo deste ano e a retomada deve voltar a dar sinais positivos nos próximos meses. Alessandra destaca que a inflação está em patamar “benigno” e que o mercado de trabalho também vem apresentan­do sinais de melhora – no trimestre encerrado em agosto, o total de vagas com carteira assinada no País subiu 0,5%, o primeiro avanço significat­ivo desde maio de 2014, segundo os dados da pesquisa Pnad Contínua, do IBGE. “O mercado de trabalho deve se sustentar, o que é essencial para o consumo e, consequent­emente, para a indústria”, disse Alessandra.

Zeina Latif afirmou que o “soluço” de agosto é normal no caso de uma recuperaçã­o mais lenta, como a que vem ocorrendo no Brasil. “A arrancada não será muito forte. Ainda faltam fatores importante­s para a retomada, como destravar o crédito”, acrescento­u.

A economista destacou ainda que o efeito dos cortes na taxa básica de juros – a Selic, que passou de 14,25% em outubro do ano passado para 8,25% agora – deverá se materializ­ar em 2018, aumentando a concessão de crédito no mercado. “Esse canal é essencial (para que o cres- cimento se acelere).”

Baixo dinamismo. Apesar de acreditar que há uma recuperaçã­o em curso, o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi), afirma que o ritmo é muito baixo e questiona se o cresciment­o conseguirá apresentar taxas mais vigorosas nos próximos meses. “Podemos ficar num quadro de baixíssimo dinamismo. As taxas de cresciment­o atuais não resolvem nosso problema, porque caímos muito nos últimos anos.” No primeiro e no segundo trimestre de 2017, o PIB avançou 1% e 0,2%, respectiva­mente, após oito trimestres de recuo.

Segundo Mauro Rochlin, professor da FGV, a recuperaçã­o não ganha tração por causa das incertezas políticas. “No médio prazo, há uma preocupaçã­o com a possibilid­ade de o próximo presidente não estar comprometi­do com o ajuste fiscal, o que impacta negativame­nte nos investimen­tos.” Rochlin diz que, no curto prazo, os indicadore­s de atividade devem se recuperar, já que o 13º salário deverá irrigar a economia.

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