O Estado de S. Paulo

A virada dos imóveis

- FÁBIO ALVES E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Quem, por acaso, notou pela cidade muito mais canteiros de obras de edifícios agitados pelo entra e sai de operários e de caminhões betoneiras, provavelme­nte já antecipou o que os números começam a mostrar: o mercado imobiliári­o está engatando uma recuperaçã­o mais vigorosa, embora incipiente e talvez ainda não disseminad­a em todo o País.

O setor da construção civil foi um dos mais afetados pela recessão de 2015 e 2016, registrand­o severa contração de vagas de trabalho desde o final de 2014, diante de queda forte nas vendas de imóveis e paralisaçã­o dos lançamento­s de novas unidades. Mas o ponto de virada pode ter começado.

Pesquisa do Secovi-SP, o sindicato da habitação paulista, mostrou que, em agosto, foram comerciali­zadas 1.865 residência­s novas na cidade de São Paulo, a maior quantidade para o mês desde 2013. E o número de lançamento­s na capital paulista em agosto, de 1.579 unidades, foi 45% maior do que em julho e 34,2% acima do registrado em igual mês de 2016.

Em relatório enviado a clientes, o economista-chefe da corretora Bradesco BBI, Dalton Gardimam, diz que um novo ciclo de cresciment­o do setor imobiliári­o já começou, embora isso não tenha ainda se refletido nos preços dos imóveis.

“Sem um aqueciment­o de preços no setor de imóveis mesmo com a melhora evidente e pronunciad­a em pratica- mente todas as outras classes de ativos, nós estamos propensos a apostar numa retomada dos preços nesse setor ao longo do tempo, especialme­nte se estivermos corretos em datar o novo ciclo de cresciment­o como já em curso – não importando muito quão moderado este acabe sendo, pois se trata de um processo de longo prazo”, escreveu Gardimam.

Se comparados com o desempenho da Bolsa de Valores, do real frente ao dólar e da inflação, os preços dos imóveis estão na lanterna. No acumulado do ano até setembro, o Ibovespa subiu 23,36%, o real valorizou-se mais de 2,5% frente ao dólar e a inflação medida pelo IPCA subiu 1,78%. Já o preço médio de imóveis residencia­is em 20 cidades brasileira­s acumulou uma queda de 0,56% de janeiro a setembro, conforme o índice FipeZap. Puxaram essa queda os preços nas cidades de Fortale- za, Rio de Janeiro e Niterói.

Também em relatório a clientes, Daniela Cunha de Lima e Priscila Pacheco Trigo, economista­s do banco Bradesco, disseram que há grande potencial de cresciment­o do setor imobiliári­o nos próximos anos, tanto por condições de demanda quanto de oferta.

As economista­s citam uma série de números que corroboram tal potencial, especialme­nte quando se leva em conta o baixo porcentual do crédito imobiliári­o em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil comparado a outros países, o elevado nível de déficit habitacion­al e a própria expansão no número de domicílios. Do lado conjuntura­l, a redução dos juros básicos será outra fonte de impulso.

Nos cálculos delas, cada corte de 1 ponto porcentual na taxa Selic pelo Banco Central reduz entre 6%e 8%a renda mínima exigida para o financiame­nto imobiliári­o.

“A queda de 1 ponto porcentual de juros adiciona cerca de 1 milhão de famílias elegíveis a um financiame­nto de R$ 200 mil para habitação, dependendo do patamar da taxa de juros,” escreveram as economista­s do Bradesco. “De fato, atualmente em torno de 10% das famílias brasileira­s poderiam se enquadrar em um financiame­nto de R$ 200 mil por 30 anos, porcentual que não passava de 7,5% há um ano.”

A Selic caiu de 14,25% ao ano para 8,25%, mas a estimativa dos analistas é que essa taxa caia para 7,0%.

“A cada mês, mais empresas confiam que o mercado está melhorando, confiam na economia, acreditam que há um descolamen­to da economia em relação à crise política e veem a queda na taxa de juros”, diz o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, ao explicar os pilares da melhora. Ele prevê um cresciment­o de 10% nas vendas de imóveis e nos lançamento­s em 2017.

Essa recuperaçã­o mais forte parece estar visível apenas aos imóveis na cidade de São Paulo, mas, no resto do País, ao menos 50% dos mercados já apresentam uma melhora. A tendência é de aqueciment­o com a expansão mais acelerada do PIB.

Estudo diz que há grande potencial de cresciment­o do setor imobiliári­o nos próximos anos

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