O Estado de S. Paulo

Brasil vence disputa contra Indonésia na OMC

País questiona barreiras impostas pelos indonésios à importação de frango brasileiro; mercado é de US$ 70 milhões a US$ 100 milhões por ano

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA Lu Aiko Otta / BRASÍLIA / COLABOROU CAMILA TURTELLI

A Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) condenou uma série de barreiras impostas pela Indonésia ao frango brasileiro. A decisão deverá abrir um mercado de US$ 70 milhões a US$ 100 milhões por ano, segundo estimativa­s do setor privado brasileiro. Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) disse esperar impacto positivo já em 2018.

A Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo, com 264 milhões de habitantes, e não importa frango de nenhum país. Lá, o consumo per capita é de 6 quilos por ano, enquanto a média mundial é de 20 quilos.

Segundo os produtores, o mercado indonésio é um dos que têm maior potencial de cresciment­o. Trata-se de um país onde 87% da população é muçulmana e o Brasil é o maior produtor de frango halal do mundo (quando a ave é abatida dentro das normas ditadas por muçulmanos), com vendas anuais de 1,8 milhão de toneladas.

“Esse é o primeiro grande caso sanitário que o Brasil ganha na OMC”, ressaltou o advogado Welber Barral, do Barral MJorge Consultore­s Associados, e ex-secretário de Comércio Exterior. “Isso mostra a qualidade do produto brasileiro.” A sanidade dos alimentos tem sido um dos principais instrument­os de medidas protecioni­stas contra produtos do País.

Jacarta ainda poderá recorrer da decisão para evitar que o Brasil estabeleça retaliaçõe­s a seus produtos. A ABPA estima que o processo durará mais seis meses. A Indonésia tem demonstrad­o intenção de cumprir as decisões do painel, segundo o subsecretá­rio-geral de Assuntos Econômicos e Financeiro­s do Itamaraty, embaixador Carlos Márcio Cozendey.

Ele relatou que o Brasil tentava exportar frango para a Indonésia desde 2009 e era impedido por uma série de barreiras. O caso na OMC começou em 2015. Segundo o embaixador, a OMC concordou com a argumentaç­ão brasileira de que a Indonésia apresentav­a demora injustific­ada para aprovar certificad­os sanitários, o que é contrário às normas da organizaçã­o.

O painel também condenou o sistema de licenciame­nto de importaçõe­s indonésio em pelo menos três pontos: por estabelece­r lista seletiva de produtos (dizia o que podia ou não ser importado), por não emitir licenças para a venda do produto em determinad­os mercados e porque não permitia alterações nas licenças após a emissão.

Mas o Itamaraty não venceu em todos os pontos da disputa. Os juízes não concordara­m que as licenças de importação tenham sido dadas de forma arbitrária. O Brasil tampouco conseguiu provar que está sendo prejudicad­o pelas medidas de monitorame­nto da produção do fran- go respeitand­o o sistema halal. No que se refere às normas de transporte, não houve prova de que o Brasil estava sendo prejudicad­o. Por fim, o Itamaraty não conseguiu provar que exista proibição não declarada de importação do frango brasileiro.

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