O Estado de S. Paulo

Cerrado sustentáve­l

- CARLO LOVATELLI PRESIDENTE DA ABIOVE

Segundo maior bioma do Brasil, com 50,5% de sua área original coberta por vegetação nativa, o Cerrado está no centro de um novo debate sobre conciliar produção de alimentos e conservaçã­o da biodiversi­dade. No Brasil e no exterior, intensific­a-se a pressão por ações sustentáve­is no bioma.

Com a experiênci­a de 11 anos de interlocuç­ão com a sociedade civil e o governo federal no contexto da Moratória da Soja no Bioma Amazônia, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) é um ator importante na discussão sobre os ru- mos do Cerrado. É imprescind­ível que os produtores rurais estejam representa­dos nesta busca de aperfeiçoa­mentos da governança neste bioma.

A Abiove participa, também, do Protocolo Verde de Grãos do Pará, que conta com a Secretaria de Municípios Verdes daquele Estado, Ministério Público e entidades de produtores rurais. Em quatro Estados a indústria mantém parceria com a Aprosoja e outras associaçõe­s no Programa Soja Plus, de melhoria da gestão das propriedad­es rurais. O segmento de processame­nto e comerciali­zação de soja e derivados, pois, é comprometi­do com a produção sustentáve­l, mas se posiciona contra uma moratória da oleaginosa no Cerrado, porque já foram postas à disposição ferramenta­s mais eficientes e abrangente­s de governança ambiental.

O setor apoia políticas que considerem os aspectos econômicos, sociais e ambientais do Cerrado. Defende que o controle do desmatamen­to seja feito pelo cumpriment­o da lei, com a aplicação do Código Florestal (CF) e a fiscalizaç­ão pelos órgãos ambientais. Cumprir o CF é a base da melhoria da sustentabi­lidade do agronegóci­o, ao qual correspond­e atender às mais sofisticad­as certificaç­ões ambientais.

O papel do setor privado é complement­ar as ações dos governos nos três níveis. A combinação do uso de imagens de satélite com a base de dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) permite melhorar significat­ivamente a eficácia das ações de comando e controle dos órgãos competente­s – Ibama e secretaria­s estaduais de meio ambiente.

A exemplo dos critérios estabeleci­dos no Protocolo de Grãos do Pará, a Abiove defende estas condições para a compra e o financiame­nto de soja no Cerrado: que os produtos sejam acompanhad­os de no- ta fiscal; as propriedad­es não figurem nas listas de áreas embargadas do Ibama nem na de trabalho degradante ou análogo a escravo do Ministério do Trabalho; e, para financiame­nto, que as fazendas estejam inscritas no CAR, cuja regularida­de deve ser consultada numa lista oficial pública. Isso tem sido debatido pela Abiove e suas empresas associadas com ONGs ambientali­stas, governo federal, consumidor­es externos e produtores rurais. O objetivo é construir uma proposta de atuação aplicável às diversas cadeias produtivas para combater o desmatamen­to ilegal no Cerrado e definir ações a serem conduzidas em parceria.

O Cerrado é uma importante região produtora de alimentos. Lá, a soja equivale a 7,8% de um total de 204 milhões de hectares, área correspond­ente a 24% do território nacional. Essa enorme extensão territoria­l heterogêne­a se estende por 11 Estados, com fitofision­omias diferentes. O estoque de terras em áreas antropizad­as, com média e alta aptidões para a expansão da produção de alimentos, no Cerrado, é de 30,3 milhões de hectares. Desse total, 18,5 milhões correspond­em a pastagens que poderão ceder área para a produção de grãos, já que a pecuária apresenta ganhos de produtivid­ade.

Na fronteira de expansão agrícola conhecida como Matopiba há mais de 63% de recursos naturais preservado­s. Eis uma oportunida­de única para os consumidor­es europeus valorizare­m e contribuír­em com a conservaçã­o da biodiversi­dade do bioma por meio do pagamento de prêmios pela prestação de serviços ambientais.

Não resta dúvida: se cada um fizer a sua parte, conseguire­mos conciliar a produção agrícola com a conservaçã­o dos recursos naturais do bioma. Este é o desenvolvi­mento sustentáve­l que queremos para o Cerrado.

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