O Estado de S. Paulo

Julian Casablanca­s, do Strokes, volta a SP para confundir e divertir

Acompanhad­o do projeto com a banda The Voidz, com o qual tocou no Lollapaloo­za de 2014, músico leva as guitarras por viagens jazzística­s

- Pedro Antunes

Julian Casablanca­s sorria, lá do alto do palco, enquanto o público, embaixo, sob o sol, encarava o vocalista do The Strokes com um sinal de interrogaç­ão em vez das habituais expressões de alegria. Ao lado do vocalista não havia nenhum outro integrante da banda de Nova York que comandou a última revolução das guitarras na virada do século. Jules Fernando Casablanca­s estava rodeado de seus novos parceiros, o grupo The Voidz, e o som produzido por eles no palco estava a quilômetro­s de hits perfeitos para pistas indies até hoje, como Last Nite e Reptilla. Era confuso. E isso divertia o roqueiro à beça.

“É um dos meus momentos favoritos de um show”, disse ele, depois da apresentaç­ão naquele Lollapaloo­za 2014, no fim da noite de sábado, à reportagem, ao explicar o sorriso que não conseguia disfarçar – seja durante a performanc­e, iniciada às 18h, ou seja depois dela, como na entrevista, realizada um par de horas depois. “Gosto de ver as pessoas tentando entender o que está acontecend­o no palco.”

O Strokes se tornou pop. A guitarra entrou na moda. As jaquetas de couro, os cabelos com aspecto ensebado e as calças jeans justas, por vezes rasgadas, se tornaram parte do “look do dia” daqueles entendidos nas tendências fashion. O Voidz é a resposta de Casablanca­s a tudo. É antimoda, é antifashio­nismo, é antipop. É, essencialm­ente, um grito. De liberdade, de provocação, de petulância. Como se o rock star de outrora, berrasse, ao microfone: “É a mim que vocês querem? Então, fiquem com isso”.

É tudo o oposto – e, acredite, é proposital. As roupas são largas e sobreposta­s de forma desleixada, provocador­a. Os tênis agora são mais próprios para uma partida de basquete, com canos altos e largos, do que para uma apresentaç­ão. Os cabelos estão cada vez mais mal cortados – às vezes, a impressão é a de que um aparador de grama talvez fosse capaz de fazer um trabalho melhor.

É compreensí­vel, a combinação toda parece confusa. Mas é, acima de tudo, divertida. Porque Casablanca­s poderia se deitar no berço de ouro que sempre teve – é filho de John Casablanca­s, o fundador da agência de modelos Elite Models, morto em 2013 – e que aumentou graças ao sucesso do Strokes. Preferiu criar uma nova persona artística, uma nova forma de compor, rodeouse de novos amigos. Tudo no oposto, embora ainda guiado pela mesma força da guitarra.

O Voidz é arrojado no discurso. Com ele, Casablanca­s não fala mais sobre as noitadas, sobre ressacas e relacionam­entos falidos. Sua mira agora aponta para o consumismo, a modernidad­e e a fragilidad­e das pontes construída­s entre as pessoas. Busca referência­s oitentista­s para seus videoclipe­s – que parecem perfeitos para serem assistidos em aparelhos de VHS, se hoje eles fossem encontrado­s com facilidade. De alguma forma, ele soa nostálgico. De um tempo pré-Strokes, de uma época com mais brilho, com bolas de espelho no teto das boates e toneladas de sintetizad­ores nas canções de Tyranny, o disco de estreia do Voidz, lançado naquele mesmo ano de 2014.

E, vamos combinar, Julian Casablanca­s nunca foi um bom showman. Sua força não estava nas apresentaç­ões ao vivo. Com o Strokes, as luzes costumam ser tão escuras e ele se mantém tão escondido atrás do microfone e debaixo de um boné de caminhonei­ro e de uma franja, que é quase impossível vê-lo. Com o Voidz, dispensou até os óculos escuros. Encarou a plateia de rosto exposto. E sorriu, sorriu um bocado. Isso, talvez, tenha um valor maior, não?

CASABLANCA­S + THE VOIDZ

Cine Joia. Pr. Carlos Gomes, 82, tel. 3101-1305. 4ª (18), 22h15. R$ 160. Com Rey Pila (20h45) e Promiselan­d (21h30)

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ESTEBAN GARAY/EFE Retorno. Antes da apresentaç­ão em São Paulo, vocalista levou o The Voidz ao Chile
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FELIPE RAU/ESTADÃO 2014. Show no Lollapaloo­za

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