O Estado de S. Paulo

Espelho do mundo

Evento que começa nesta quarta, 18, vai exibir 394 filmes de 59 países durante 14 dias

- Luiz Carlos Merten

Maior e mais longevo evento de cinema do tipo no País, a Mostra de São Paulo chega à sua 41.ª edição fiel à vocação de abrir uma janela para o mundo – e retratar o estado do planeta. Neste sentido, o cartaz assinado por Ai Weiwei e o longa dirigido pelo artista, que abre nesta quarta, 18, a Mostra de 2017 para convidados, reafirmam o que já disse Renata de Almeida em entrevista ao Estado. O drama dos refugiados em Human Flow – Não Existe Lar se Não Existe Aonde Ir e a retomada da discussão sobre o aqueciment­o global e as sucessivas violações do meio ambiente em Uma Verdade Mais Inconvenie­nte, a nova denúncia de Al Gore, apontam para uma tomada de posição.

A Mostra, que vai até 1.º de novembro, não é somente uma vitrine para as estéticas em implosão de autores ao redor do mundo. Ética e estética têm de andar juntas. Aqui você não vai ver nada que não participe de um esforço em prol da diferença e do entendimen­to. Não por acaso, o maior prêmio da Mostra chama-se Humanidade, e este ano será outorgado a Agnès Varda, precursora da nouvelle vague e uma das maiores autoras de cinema da França e do mundo. Dela, serão exibidos 11 longas restaurado­s, e a Mostra ainda traz o novo filme da diretora, Faces Places – o melhor exibido em Cannes, em maio, muito melhor que o vencedor da Palma de Ouro, The Square, do sueco Ruben Östlund. Faces, Places, correaliza­do com JR, passou fora de concurso.

A 41.ª Mostra em números, todos superlativ­os. Serão 394 títulos de 59 países, apresentad­os em 40 salas de 33 pontos de exibição, incluindo novos espaços que estão sendo agregados aos já tradiciona­is, de anos anteriores. O PlayArte Marabá, no centro de São Paulo, e o Instituto Moreira Salles, na Av. Paulista. Sim, haverá a tradiciona­l projeção ao ar li- vre, na área externa do Auditório Ibirapuera, com acompanham­ento da Orquestra Jazz Sinfônica. O clássico da vez será O Homem Mosca/Safety Last!, de 1923, dirigido por Fred C. Newmeyer e Sam Taylor, com Harold Lloyd. Já que falamos em Varda, cabe ver como será a representa­tividade feminina. A Mostra exibe 98 filmes dirigidos por mulheres, dos quais 18 são brasileiro­s. Um dos destaques é Praça Paris, que deu a Lúcia Murat o prêmio de diretora de ficção na Première Brasil do recente Festival do Rio.

Mantenha na mira outros filmes de mulheres – Zama, da argentina Lucrecia Martel; Esplendor, da japonesa Naomi Kawase; Mulheres Divinas, da italiana Petra Volpe; e Vazante, da brasileira Daniela Thomas. Parceira de Walter Salles, Daniela virou inimiga do povo no debate realizado em Brasília sobre seu longa que retrata o período da escravidão. O tema presta-se à polêmica, mas um mês depois do massacre, ela já respondeu aos ataques pela mídia e se fortaleceu para os novos encontros com o público. No Brasil polarizado das redes sociais, em que a norma tem sido a ofensa, as pessoas precisam reaprender a exercitar o diálogo. Para permanecer no âmbito do cinema brasileiro, a Mostra deste ano apresenta uma seleção de 64 longas nacionais e, dentre eles, 54 concorrerã­o ao Prêmio Petrobrás de Cinema, que vai contemplar os vencedores com R$ 300 mil – R$ 200 mil para a melhor ficção; R$ 100 mil para documentár­io –, a título de incentivo para a distribuiç­ão.

Além do Prêmio Humanidade para Agnès Varda, a Mostra outorga o Prêmio Leon Cakoff a outro francês – Paul Vecchiali –, objeto de um verdadeiro culto por

parte de muitos cinéfilos. O ator e diretor Paulo José também recebe o prêmio que leva o nome do criador da Mostra – e será emocionant­e (re)ver sua trajetória no belo documentár­io Todos os Paulos do Mundo. As homenagens não param por aí. Os 80 anos de Leon Hirszman, nome maior do Cinema Novo, serão lembrados com a exibição da versão restaurada de Eles Não Usam Black-Tie. E ainda haverá um Foco Suíça, com direito a ciclo de sete filmes do cineasta Alain Tanner, mais um trabalho inédito de Jean-Luc Godard para TV.

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PARAMOUNT Al Gore. Político prossegue cruzada pelo meio ambiente

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