É muito caro ser digital no Brasil. Banda larga está na faixa do cigarro, que tem imposto alto para inibir o consumo.
Parece distante, mas 2019 chegará. Michel Temer será o expresidente com um processo pesado para enfrentar. Aécio Neves conseguirá no máximo uma vaga de deputado federal por Minas, e teremos alguém diferente no Planalto, uma Câmara refeita, assim como dois terços do Senado. Haverá um mix de gente que veio com ideias frescas, e a turma que sobreviveu após o ano em que o Parlamento escolheu jogar sujo nas fuças de todos. Com alguma sorte, haverá incentivo para reimaginar o Brasil e, quem sabe então, alguns de nossos proble- mas estruturais mais graves possam ser encarados de frente. Um deles deveria ser óbvio. Precisamos nos tornar um país digital.
Importe um computador, um celular. Compre numa loja eletrônica e o traga para o Brasil. O imposto de importação sai por 60%, junte o ICMS que varia a cada estado e, em geral, o preço do produto dobra. Ponha ainda a pancada da conversão do dólar e, bem, é muito caro ser digital no Brasil. Mais caro ainda usar internet. Metade do preço que pagamos por nossa banda larga é imposto estadual. Banda larga está na mesma faixa tributária dos ci- garros —é a mais pesada. E cigarro paga imposto caro conta de uma política pública clara para desincentivar seu uso. O que podemos compreender a respeito de banda larga?
Em suma, a política dos estados e da União diz o seguinte: essas bugigangas eletrônicas são luxos da classe média.
O World Economic Forum publicou, na semana passada, um estudo ligeiro sobre a política sueca para tecnologia. Tem razão de ser. Nasceram em Estocolmo o Skype, o SoundCloud, o Spotify, os jogos Minecraft e Candy Crush. É um país pequeno. Ainda assim, na soma do valor de mercado de suas empresas digitais, só o Reino Unido bate o país nórdico, na Europa. Sim. Se o assunto é empresas de tecnologia digital, a Suécia é maior do que a Alemanha.
Não é acidente. É política pública. Na década de 1990, o governo decidiu não apenas cortar inteiramente o imposto para hardware digital como foi além. Pôs um subsídio. O objetivo é que toda família sueca tivesse pelo menos um computador em casa. O resultado imediato é que se formou uma geração de programadores: um bando de meninos e meninas que se fascinaram com a máquina que os pais trouxeram para casa. Formam a atual geração de empreendedores.
Não é só isso que o governo sueco fez. Investiu pesadamente em banda larga e também a subsidiou. Apenas dois países a batem em velocidade média: Noruega e Coreia do Sul. Só o Vale do Silício tem mais startups com preço de mercado acima do US$ 1 bilhão do que a cidade de Estocolmo. Enquanto isso, o Brasil escolheu botar dinheiro na JBS. E nós sabemos por quê.
A política brasileira para tecnologia deu errado. Não criamos uma indústria de tecnologia. Uma política como a sueca, que fez exatamente o oposto, deu certo.
Havia uma lógica na política da Ditadura de reserva de mercado para hardware. A lógica estava errada, mas existia: ao encarecer as máquinas, forçaremos o nascimento de uma indústria nacional. Os militares não entenderam que as máquinas eram o meio, o dinheiro estava nos softwares e serviços. Pode-se argumentar que, na década de 1980, isso não fosse claro. Nos anos 1990 já era óbvio.
A política atual não tem lógica alguma. É só uma maneira fácil de arrecadar imposto. Como todo mundo precisa comprar computador e eles saem em dólar, como todo mundo usa internet e as contas são carinhas, tasque imposto para alimentar o Estado. É só isso. Mas Estado serve para imaginar um país futuro melhor. Não para se alimentar. Quem sabe, a partir de 2019, tenhamos um Estado.
Cigarro paga imposto caro no Brasil para desincentivar seu uso. E a banda larga?