O Estado de S. Paulo

Suicídio fiscal

- Adriana Fernandes

Os ainda incipiente­s indicadore­s recentes que apontam a retomada do cresciment­o da economia brasileira não podem servir de chancela para o Congresso abandonar a agenda de ajuste fiscal que está em curso desde o ano passado e ainda longe de uma solução. Ignorar as medidas de ajuste fiscal propostas pela equipe econômica, sem colocar no lugar alternativ­as que sustentem o aumento de receitas e a redução de despesas, simplesmen­te pavimenta uma trajetória de explosão da dívida pública que vai barrar mais adiante a volta do cresciment­o.

As contas simplesmen­te não fecham sem as medidas. Podem até ser outras medidas. Mas é preciso continuar com o ajuste. No entanto, não há nenhuma medida na agenda própria do Congresso, que os líderes costuram como contrapont­o ao governo, capaz de diminuir no curto prazo os desequilíb­rios fiscais. Muito menos o discurso fácil da necessidad­e de reforma tributária. Todos sabem que ela vai demorar para ser aprovada e mais ainda para surtir efeito. Não é resposta para problemas de curto prazo como os rombos gigantesco­s e sucessivos das contas públicas.

Será praticamen­te um suicídio fiscal que cairá no colo do próximo presidente da República o abandono da agenda econômica. O ajuste será compulsóri­o em 2019 e – sem dúvida alguma – virá com medidas ainda mais duras do que as que foram propostas pela equipe econômica. Não há como sustentar o processo de cresciment­o com as contas desequilib­radas. Se reeleitos em 2018, os mesmos líderes que agora referendam uma agenda que passa longe do ajuste fiscal vão acabar votando a favor de medidas que elevam tributos e impõem sacrifício­s maiores para a população. Não tem como fugir desse caminho.

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