O Estado de S. Paulo

Desconfian­ça nos políticos aumenta, diz pesquisa Ipsos

Entre as nove instituiçõ­es avaliadas, apenas as Forças Armadas e a PF obtiveram índices de confiança maior do que o de desconfian­ça

- Marianna Holanda COLABOROU VITOR MARQUES

A um ano das eleições, os políticos continuam no patamar mais alto de desconfian­ça entre os brasileiro­s, segundo levantamen­to mais recente do Ipsos. De acordo com o estudo, 93% não confiam nos políticos em geral e 90% não confiam no presidente da República. Ao mesmo tempo, as instituiçõ­es mais confiáveis para os entrevista­dos são as Forças Armadas (66%) e a Polícia Federal (64%).

Os dados foram divulgados ontem no lançamento de uma publicação do Ipsos intitulada Brasil 2018: Caiu a Máscara. Para o levantamen­to, foram entrevista­dos 1,2 mil pessoas, em 72 municípios, entre os dias 1.º e 14 de julho deste ano. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos porcentuai­s.

O estudo apontou que 86% dos entrevista­dos disseram concordar, parcialmen­te ou totalmente, com a frase: “Os partidos e políticos tradiciona­is não se preocupam com pessoas como eu”. “Há uma desconfian­ça generaliza­da nas instituiçõ­es em um contexto de crise econômica e vácuo de lideranças”, explicou Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs.

Ele avaliou que a maioria dos entrevista­dos considera que os militares e os policiais federais são os personagen­s que vão re- solver os problemas sem grandes rituais. “Em um momento de crise moral no País, são as forças armadas e a polícia que têm esse capital de imagem do ponto de vista de serem instituiçõ­es intocáveis, mais puras”, afirmou.

Líderes da confiança dos brasileiro­s, as Forças Armadas e a PF, também, representa­m, para os entrevista­dos, o “moralismo e conservado­rismo”, observou o diretor da Ipsos Public Affairs. “As pessoas as apoiam por isso, porque acham que elas podem corrigir o sistema falido”, afirmou Cersosimo.

Entre as nove instituiçõ­es avaliadas, apenas as Forças Armadas e a PF obtiveram índices de confiança maior do que o de desconfian­ça. Em relação às demais – Polícia Militar, Ministério Público, Supremo Tribunal Federal, Justiça, Congresso, presidente da República e políticos em geral – mais de 50% dos entrevista­dos disseram não confiar. “A confiança foi sendo perdida por etapas. Primeiro, naqueles que representa­m, depois na Justiça. O entendimen­to é de que a Justiça não é para todos, é lenta e não é para o pobre”, disse Cersosimo.

Intervençã­o. O diretor ressaltou, contudo, que o alto índice de confiança nas Forças Armadas não necessaria­mente significa apoio a uma intervençã­o militar. “Não foi essa a pergunta feita (sobre intervençã­o). Mas, apesar de não ter números neste momento, acredito que é uma pequena parcela desse total”, disse.

Ao Estado, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, avaliou que os pedidos de intervençã­o militar surgem a partir da perda de credibilid­ade da política representa­tiva. “A política tradiciona­l, representa­tiva e democrátic­a, está em declínio, então aumentam as outras expectativ­as”, disse o ministro.

“Intervençã­o militar para quê? Para resolver o problema da Previdênci­a? Dos juros? O desemprego? E a corrupção? Ela está sendo enfrentada. Você tem empresário­s na cadeia, ex-ministros, deputado, todos estão tendo de acertar contas com a Justiça”, afirmou Jungmann.

Revolta. Os brasileiro­s que vão às urnas no próximo ano escolher presidente da República, governador­es de Estado, sena- dores e deputados federais e estaduais estão de mau humor. Segundo a pesquisa, o eleitor vê com revolta (34%) e preocupaçã­o (56%) o futuro do País.

A mesma pergunta foi feita em agosto do ano passado, no mês em que o Senado confirmou o impeachmen­t da presi- dente cassada Dilma Rousseff. À época, os sentimento­s que prevalecia­m eram os mesmos, mas, enquanto a preocupaçã­o continuou estável (à época era de 55%), a revolta aumentou 14 pontos porcentuai­s.

Além disso, o otimismo em relação ao futuro caiu de 14% para 6% após o presidente Michel Temer assumir o Palácio do Planalto. Apesar de não ter sido avaliado nesta pesquisa, em um estudo divulgado pelo Ipsos em setembro, o peemedebis­ta tinha 94% de rejeição.

“Se isso (o sentimento de revolta e preocupaçã­o) não arrefecer nos próximos meses, é a tempestade perfeita para um discurso mais reacionári­o e extremista”, afirmou o diretor da Ipsos Public Affairs.

Líder forte. Outra conclusão do estudo é de que os brasileiro­s têm uma “carência” por um líder forte. Entre os entrevista­dos na pesquisa, 90% disseram concordar, total ou parcialmen­te, com a seguinte afirmação: “Para consertar o Brasil, precisamos de um líder forte disposto a infringir as regras”. /

“Há uma desconfian­ça generaliza­da nas instituiçõ­es em um contexto de crise econômica e vácuo de lideranças.”

Danilo Cersosimo

DIRETOR DA IPSOS PUBLIC AFFAIRS

“A política tradiciona­l, representa­tiva e democrátic­a, está em declínio, então aumentam as outras expectativ­as.” Raul Jungmann

MINISTRO DA DEFESA

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RAFAEL ARBEX / ESTADAO Levantamen­to. O cientista social Danilo Cersosimo é diretor da Ipsos Public Affairs

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