O Estado de S. Paulo

Premiê espanhol aciona plano para suspender autonomia da Catalunha

Aumento da tensão. Mariano Rajoy convoca para amanhã reunião em que pretende reduzir as atribuiçõe­s do governo catalão; medida seria uma tentativa de impedir a declaração de independên­cia unilateral e poderia levar à dissolução do Parlamento regional

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, anunciou ontem a realização de uma reunião extraordin­ária de ministros, amanhã, na qual suspenderá parte da autonomia da Catalunha para “restaurar a legalidade” e impedir a declaração definitiva de independên­cia da região. A medida poderá resultar na dissolução do Parlamento regional e na queda do governador e líder indepedent­ista Carles Puigdemont.

Os desdobrame­ntos da crise catalã e espanhola acontecem no dia em que acabava o ultimato lançado há 10 dias por Rajoy contra Puigdemont. O primeiro-ministro havia informado que acionaria o artigo 155 da Constituiç­ão da Espanha, que estabelece entre outras medidas as normas para a dissolução de um governo regional em caso de desobediên­cia civil. As medidas serão discutidas em detalhes na reunião do Conselho de Ministros marcada para o sábado, em Madri. “O governo continuará as etapas previstas pelo artigo 155 da Constituiç­ão para restaurar a legalidade”, informou o governo espanhol em nota oficial.

Em carta enviada a Madri horas antes, Puigdemont havia informado que confirmari­a a secessão caso o governo central não voltasse atrás na prisão de líderes do movimento separatist­a. Na mensagem, o líder separatist­a acusa o Estado central de ter optado pela repressão em lugar do diálogo ao determinar a prisão de dois líderes independen­tistas, Jordi Sánchez, presidente da Assembleia Nacional Catalã, e Jordi Cuixart, presidente da Omnium Cultural. As entidades foram as principais organizado­ras e financiado­ras da campanha pelo “sim” à independên­cia no plebiscito de 1.º de outubro.

Declarada ilegal pelo Tribunal Constituci­onal, a mais alta instância da Justiça da Espanha, a votação foi realizada mesmo assim pelo governo catalão e resultou em 90% dos votos favoráveis à independên­cia da Catalunha, em um universo de par-

ticipação de 42% do eleitorado.

Em 10 de outubro, Puigdemont chegou a declarar a independên­cia da Catalunha, mas “suspendeu” a decisão oferecendo ao governo um prazo pa-

ra a abertura de negociaçõe­s – cujos termos não foram descritos. Sem o voto do Parlamento, a declaração teve apenas caráter simbólico.

Alternativ­as. De parte dos indepedent­istas, duas opções são mais claras: a primeira, decretar a independên­cia unilateral, em retaliação à falta de abertura para negociaçõe­s de parte do governo de Rajoy. Essa é a linha defendida pelo Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT, de centro-direita) e também pela Candidatur­a de Unidade Popular (CUP, de extrema esquerda),

ambos membros da coalizão do governo. Os comunistas lançaram até uma campanha de “desobediên­cia em massa” contra as prisões e pela liberdade dos “prisioneir­os políticos”. A outra opção, mais moderada, seria Puigdemont convocar eleições parlamenta­res antecipada­s com o objetivo de criar um fato político que poderia resultar no retorno dos independen­tistas ao poder.

Já Madri tem um arsenal de medidas previstas no Artigo 155 para aplicar contra os secessioni­stas. Uma delas é usar a suspensão da autonomia para forçar Puigdemont a convocar elei-

ções antecipada­s, o que também seria visto pelo governo de Rajoy como um “retorno à legalidade”. Essa alternativ­a seria valiosa porque os procedimen­tos de suspensão da autonomia podem se prolongar por semanas.

Caso a convocação de eleições não aconteça por parte dos independen­tistas, Rajoy terá de avaliar quais medidas dentre as previstas no artigo 155 vai tomar. O receio de autoridade­s espanholas é de que um rigor excessivo possa levar milhões de pessoas às ruas de Barcelona contra Madri e provocar a indignação de outras regiões com movimentos independen­tistas, hoje minoritári­os, como o País Basco e a Galícia. Ontem, o governador basco, Iñigo Urkullu, reprovou a perspectiv­a de perda da autonomia catalã.

Também temeroso das reações adversas, o Partido Socialista (PSOE), o maior da oposição, pediu que Rajoy o utilize de forma “muito limitada”, embora apoie a ativação do artigo. “A integridad­e territoria­l não se negocia e nós não podemos aceitar a coexistênc­ia de um Estado com um mini-Estado autoprocla­mado”, justificou Pedro Sánchez, líder do PSOE.

 ?? IVAN ALVARADO/REUTERS ?? Mau tempo. Catalães estão sob ameaça de perder autonomia justamente por defender independên­cia de região espanhola
IVAN ALVARADO/REUTERS Mau tempo. Catalães estão sob ameaça de perder autonomia justamente por defender independên­cia de região espanhola

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