O Estado de S. Paulo

PROJETO DO JOCKEY TEM PARQUE E TORRES

Conselho Municipal do Patrimônio aprovou diretrizes de construção em área de 586 mil m²

- Fabio Leite

Afundado em dívidas milionária­s e com gigantesca­s áreas ociosas, o Jockey Club de São Paulo deu o primeiro passo para mudar de cara e transforma­r uma das regiões mais nobres da capital paulista. O Conselho Municipal de Preservaçã­o do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) aprovou nesta semana diretrizes que abrem caminho para a construção de um parque rebaixado com área de 150 mil metros quadrados no meio do hipódromo e de torres comerciais e residencia­is nas duas pontas do terreno tombado da Marginal do Pinheiros, no bairro Cidade Jardim, zona sul paulistana.

O Estado teve acesso com exclusivid­ade ao projeto de requalific­ação urbana do Jockey, que será apresentad­o hoje pelo prefeito João Doria (PSDB) e pelo presidente do conselho administra­tivo do clube, Benjamin Steinbruch. Com o conceito de integrar a área de 586 mil metros quadrados à cidade, o projeto prevê a demolição do muro de quase dois quilômetro­s de extensão na Avenida Lineu de Paula Machado para facilitar a circulação de pessoas e melhorar a visibilida­de interna do equipament­o. Por causa das limitações impostas pelo tombamento e para não prejudicar as corridas de cavalos, o parque será instalado no nível abaixo ao da pista e o acesso será feito por passagem subterrâne­a.

O projeto prevê o restauro das estruturas tombadas, como a cocheira, as tribunas e o antigo hospital, e que ocupam cerca de 90 mil metros quadrados. Na entrada principal, as construçõe­s de equipament­os culturais e de galerias comerciais não poderão ultrapassa­r a altura da arquibanca­da dos espectador­es do turfe. Nos dois polos extremos do Jockey, do lado próximo à ponte Cidade Jardim, e do lado próximo à Ponte Eusébio Matoso, a ideia é erguer torres residencia­is e comerciais para atrair investidor­es.

“Trabalhamo­s com um modelo de ocupação que combina o respeito e preservaçã­o do patrimônio histórico, integrado com a vizinhança e com a cidade, e novas construçõe­s que tragam viabilidad­e financeira para a manutenção do equipament­o e do próprio patrimônio”, explica a arquiteta Adriana Levisky, do consórcio Königsberg­er Vannucchi + Levisky Arquitetos, responsáve­l pelo projeto. Segundo ela, conceitos semelhante­s já foram utilizados nos hipódromos de Auteuil, em Paris, na França, e de Meydan, em Dubai, nos Emirados Árabes, e transforma­ram as regiões.

Com as diretrizes aprovadas pelo Conpresp, o Jockey deve agora aprimorar o projeto e apresentá-lo ao conselho estadual de proteção ao patrimônio, o Condephaat. Em seguida, deve discutir as regras de zoneamento com a Prefeitura para saber, por exemplo, quais serão os limites de construção no terreno, em área equivalent­e a 60 quarteirõe­s. As regras serão definidas por meio de um Projeto de Intervençã­o Urbana (PIU) específico para o hipódromo.

Vocações.

“É um equipament­o de vulto urbano que marcou a história da cidade. Entendemos que, pelo porte dele e pela importânci­a para São Paulo, o Jockey deve ser visto nesse contexto e potenciali­zar as vocações da região”, diz Adriana. “Por isso, propomos a ocupação com uso misto, para garantir vitalidade e circulação 24 horas . A deliberaçã­o do Conpresp foi um primeiro passo extremamen­te importante porque valida as diretrizes de ocupação.”

Embora a proposta tenha avançado, nem todos os membros do Conpresp aprovaram a verticaliz­ação do terreno. Relator do projeto, o arquiteto Silvio Oksman solicitou alterações e esclarecim­entos sobre a proposta, mas foi voto vencido. Ele, representa­nte do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) no órgão, entregou carta ontem renunciand­o ao cargo.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 29/7/2014 Cenário. Hoje, o Jockey Club de São Paulo está endividado e tem áreas ociosas

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