O Estado de S. Paulo

Clubes fatiam atletas para ter lucro

Estratégia de negociar o jogador, mas manter parte dos direitos econômicos, é adotada com o objetivo de ganhar mais dinheiro em transação futura

- Daniel Batista

Uma maneira encontrada pelos clubes brasileiro­s para aumentar a lucro com negociação de jogadores tem agitado o mercado e feito os direitos econômicos de alguns atletas ficarem ainda mais fatiados. São cada vez mais comuns transações em que o clube vende o atleta, mas mantém parte de seus direitos econômicos. O objetivo é ganhar ainda mais dinheiro numa etapa futura.

O último caso de sucesso neste tipo de negociação envolve o Corinthian­s e o atacante Malcom. No começo de 2016, 85% dos direitos econômicos do jogador foram vendidos ao Bordeaux, da França, por ¤ 5 milhões (R$ 21 milhões na época). Em setembro deste ano, os 15% que ainda pertenciam ao time brasileiro foram negociados por ¤ 4,5 milhões (R$ 16 milhões). O Estado ouviu empresário­s e dirigentes sobre essa estratégia. Não existe uma regra e tudo depende do comprador. “Não dá para cravar que o melhor negócio seria vender a totalidade dos direitos econômicos, cada caso tem sua relevância”, explicou o diretor de futebol do Corinthian­s, Flávio Adauto.

Times grandes da Europa (Barcelona, Real Madrid, Chelsea, entre outros) tendem a comprar 100% dos direitos econômicos dos atletas. Mas equipes intermediá­rias preferem adquirir apenas uma porcentage­m. “O clube (vendedor) quer continuar dono de um porcentual do atleta porque o conhece e acredita no valor que ele poderá ter no futuro, principalm­ente em clubes intermediá­rios”, explicou o diretor executivo de futebol do São Paulo, Vinicius Pinotti.

Quando a negociação é com um desses times intermediá­rios, a tendência é manter uma fatia dos direitos do atleta, como o Corinthian­s fez com Malcom. “É uma forma de receber mais no futuro, pois eles vendem melhor que nós, do Brasil”, explicou Fernando Cesar, empresário de diversos atletas, como os zagueiros Pablo e Gusta- vo Henrique, de Corinthian­s e Santos, respectiva­mente.

Fatiar os direitos de um atleta também é uma forma de baratear a transação. “O dirigente coloca um preço e o comprador não chega no valor. Uma forma de se acertarem é adquirindo uma porcentage­m dos direitos”, disse o empresário Marcelo Robalinho, representa­nte do meia Jadson, do Corinthian­s.

“Se a instituiçã­o não quer pagar o que achamos ser o correto, há uma ‘divisão de risco’. Se ele for vendido, o clube ganha menos na venda, mas antes dividiu o risco”, explicou Pinotti.

Quando o time brasileiro é de menor expressão, a ordem é sempre tentar vender parte dos direitos. O Novorizont­ino, por exemplo, conta com diversos jogadores espalhados pelo País. Os dois mais famosos são o meia Michel, do Grêmio, que ainda tem 20% ligados ao time do interior, e o atacante Carlinhos, do Corinthian­s, com 50%.

“A gente sabe que a nossa vitrine tem um valor e a de clubes grandes tem outra. Então a gen- te tenta manter vínculo com o atleta, até para conseguir nos manter e pagar as contas quando ele for negociado. É como se fosse uma poupança”, contou o presidente do Novorizont­ino, Genilson da Rocha Santos.

Mas clubes do interior também são vítimas dos grandes da Europa. O atacante de 17 anos, Rodrigo Rodrigues, do Novorizont­ino, foi negociado com o Real Madrid, que ficará com 100% do garoto e o levará em abril do ano que vem, quando completará 18 anos.

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ERIC GAILLARD / REUTERS Dinheiro extra. Corinthian­s reteve parte dos direitos sobre Malcom e ganhou mais R$ 16 milhões

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