O Estado de S. Paulo

Henrique Dourado vive fase de ouro no Fluminense

Aos 29 anos, atacante que ganhou apelido de ‘Ceifador’ quando defendia o Palmeiras, brilha no Rio

- Almir Leite COLABOROU DANIEL BATISTA

“Se você quiser conversar sobre novela, eu não saberei o que dizer, pois não acompanho. Mas de futebol eu entendo.’’ Dona Marli tem suas razões para dar tal explicação. Ela sempre acompanhou de perto o que acontece nos campos, sejam eles gramados ou não. Seu marido, Valmir, era jogador na várzea. Dizem que sabia fazer gols. Mas goleador mesmo é o filho. José Henrique da Silva Dourado é simplesmen­te o artilheiro do Campeonato Brasileiro.

Aos 29 anos, Henrique Dourado vive a melhor fase na carreira. É ídolo da torcida do Fluminense. Já fez 30 gols nesta temporada, 16 deles no Brasileirã­o. Se continuar nessa toada, vai bater a marca do ídolo anterior, Fred, que em 2011 fez 34 gols com a camisa tricolor.

Nada mau para um jogador que chegou no ano passado justamente para substituir o artilheiro que se transferir­a para o Atlético-MG e que, no começo, quase não fazia gols. Por isso, não foram poucas vezes que a torcida pediu para que levasse seu jeito desengonça­do para outro lugar.

Henrique Dourado ficou chateado. Mas não se abalou. Afinal, se acostumara a desafios desde criança. Desde os tempos em que a mãe o levava para treinar no 18 de Fevereiro de Guarulhos, sua cidade natal. E às vezes, o garoto tinha de ir à pé para o treino, pois não havia dinheiro para condução.

Incentivad­o por Marli e o caminhonei­ro Valmir, o garoto apostou tudo no sonho de ser profission­al. Mas em algumas vezes fraquejou e pensou em largar tudo e ir “cuidar da vida”.

Numa dessas ocasiões, estava encostado no Flamengo de Guarulhos, onde se profission­alizou. Os pais não deixaram. “Meu pai falou: ‘Você lutou tanto para realizar seu sonho, não pode entregar tudo de mão beijada. Vá à luta’. Ele tinha razão, por isso segui em frente”, disse Henrique Dourado em 2014, em entrevista ao Estado.

Naquela época, ele estava no Palmeiras, em sua primeira chance em um grande clube. Até então, perambular­a por equipes do interior paulista e do Paraná, sempre fazendo gols, mas nada de chegar à elite. Na realidade até chegou, mas sua experiênci­a no Santos em 2013 resumiu-se a cinco jogos, nos quais passou em branco.

Recompensa.

Dourado, então, passou por uma Portuguesa que já descia a ladeira antes de chegar ao Palmeiras. E finalmente veio a recompensa. Em forma de reconhecim­ento, advindo dos gols. Em 2014, ele foi o artilheiro do alviverde no Brasileiro, com 16 gols.

Foi no Palmeiras também que Henrique Dourado se tornou o Ceifador. Num jogo com o Sampaio Correa, pela Copa do Brasil, fez o gesto que simula cortar a cabeça dos adversário­s pela primeira vez. A torcida gostou e a marca pegou.

Em seguida, o artilheiro teve uma experiênci­a no futebol português, uma passagem um tanto quanto apagada pelo Cruzeiro e em junho do ano passado assinou contrato de quatro anos com o Fluminense.

Nas Laranjeira­s, está de bem com a vida e consolidou sua fama de implacável cobrador de pênaltis. Só este ano foram 11 e em nove deles o goleiro nem saiu na foto. Na carreira, aliás, só errou o alvo uma vez. Foi em 2014 quando bateu para fora num jogo do Palmeiras contra o Atlético-MG (detalhe: havia convertido na primeira cobrança, mas o juiz mandou voltar).

Apesar da fama de rei dos pênaltis – seu mais recente gol, quarta-feira, contra o São Paulo, foi assim – Henrique Dourado, que este ano já marcou de perna esquerda, perna direita e de cabeça, admite que ainda fica nervoso antes das cobranças. “Não tem aquele pênalti em que você fica mais tranquilo. Em todos dá aquele friozinho na barriga”, explica.

Por isso, antes de cada cobrança reza, e respira fundo antes da corrida desengonça­da, olhos fixos no goleiro, em direção à bola (para a qual não olha). Assim, tem feito a alegria da torcida do Fluminense. E a de dona Marli, que sempre que pode vai ao Maracanã torcer, e vibrar, com os gols do filho. /

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Na rede. Henrique celebra mais um gol com a camisa do Fluminense

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