O Estado de S. Paulo

Para cumprir regra do BC, Caixa vai precisar de R$ 20 bi

Um aporte de R$ 10 bilhões seria necessário ainda este ano, mas o governo diz não ter recursos; BNDES pode comprar créditos do banco

- Murilo Rodrigues Alves Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A Caixa Econômica Federal precisa de um reforço de R$ 10 bilhões neste ano e mais R$ 10 bilhões em 2018 para cumprir regras internacio­nais de proteção a crises, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’ com três fontes que acompanham o assunto. O Tesouro já avisou que não tem como tirar dinheiro do Orçamento para fazer um aporte de recursos na instituiçã­o, e o governo agora analisa um leque de alternativ­as para socorrer o banco público.

A Caixa está pressionad­a porque o Banco Central cobra o cumpriment­o das novas exigências firmadas no acordo de Basileia 3. O índice de Basileia mostra quanto de capital dos sócios o banco deve ter em relação aos recursos emprestado­s. A adequação a essa regra está ligada à capacidade que o banco tem para fazer desembolso­s de novos créditos.

O governo diz que conta com a Caixa para ajudar na retomada da economia. Mas, sem capital, o banco fica impedido de atuar como uma das locomotiva­s de crédito, papel que cumpriu em anos anteriores. Decisões políticas tomadas em governos passados obrigaram o banco a conceder empréstimo­s em linhas de maior risco, sem o respaldo técnico, o que fez com que o nível de inadimplên­cia aumentasse. Com isso, a instituiçã­o foi obrigada a reservar uma parte maior do capital para fazer frente ao perigo de calote.

Como antecipou o Estadão/Broadcast, uma das possibilid­ades para socorrer o banco é o BNDES comprar da Caixa até R$ 10 bilhões em créditos de maior risco. Outra alternativ­a seria uma reestrutur­ação mais ampla, com o repasse das operações de infraestru­tura da Caixa para o BNDES, incluindo a gestão do FI-FGTS, fundo que usa parte dos recursos do FGTS para aplicar em infraestru­tura.

A área jurídica do governo também avalia a possibilid­ade de o FGTS fazer um empréstimo de R$ 10 bilhões à Caixa. Segundo apurou a reportagem, ainda há dúvidas sobre a operação, que está sendo analisada pela Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional (PGFN).

O empréstimo seria feito na forma de bônus perpétuo, sem prazo de vencimento, que funciona na prática como uma espécie de capitaliza­ção. Essa opção, porém, deve enfrentar resistênci­as no Conselho Curador do FGTS. “Não é porque guarda o dinheiro ali, (que pode) achar que é a sua tábua de salvação. Não é”, disse o representa­nte dos trabalhado­res no colegiado Claudio Gomes, da

Central Única dos Trabalhado­res (CUT). Segundo ele, como o FGTS é o maior fundo de recursos privados no País, “está todo mundo de olho” no dinheiro.

As normas brasileira­s exigem que para cada R$ 100 empresta-

dos, os bancos tenham R$ 11 de capital dos sócios. Em agosto, o chamado índice de Basileia da Caixa ficou em 14,85%. O BNDES fechou junho com índice de 22,75%. As novas regras de Basileia 3 aumentam o porcentual

de capital que os acionistas dos bancos são obrigados a ter para fazer frente aos riscos, o que se mostra uma dificuldad­e para a Caixa. O BNDES, por ter indicadore­s bem mais confortáve­is, foi acionado nas negociaçõe­s.

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PILAR OLIVARES/REUTERS Contas. Banco não tem capital suficiente para cumprir regras de proteção contra crises

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