O Estado de S. Paulo

Com fim do Inovar-Auto, importador­as de veículos voltam a investir no Brasil

Líder de mercado, Kia Motors anunciou ontem aporte de R$ 165 milhões no País para 2018, e boa parte dos recursos será usada na abertura de 25 concession­árias; regime automotivo, que termina no fim do ano, prejudicou importaçõe­s com imposto extra

- Cleide Silva André Ítalo Rocha

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As empresas importador­as de veículos vão retomar investimen­tos e reabrir concession­árias fechadas nos últimos cinco anos, período em que vigorou no País o Inovar-Auto, regime automotivo que prejudicou as importaçõe­s com imposto extra. O programa que termina no fim do ano estabelece­u alíquota extra de 30 pontos porcentuai­s de IPI para veículos fabricados fora do Mercosul e do México e, com isso, as vendas de modelos vindos de fora da região caíram de 112,6 mil unidades em 2013 para cerca de 27 mil neste ano. A queda foi acentuada também pela crise econômica.

A maior importador­a de veículos do Brasil, a Kia Motors, anunciou ontem que pretende investir R$ 165 milhões no País em 2018. O aporte será destinado, em parte, à abertura de 25 concession­árias da marca, o que deve gerar 1,3 mil empregos. A marca coreana chegou a ter 180 lojas em 2011 e hoje tem 90, informa o presidente do grupo, José Luiz Gandini.

Até o fim deste ano, ainda sob as regras do Inovar-Auto, a Kia espera vender 8 mil veículos no Brasil. Para o ano que vem, sem a sobretaxaç­ão no IPI, a expectativ­a é chegar a 20 mil unidades. A montadora já encomendou 5 mil, produzidos nas fábricas na Coreia do Sul e no México, para vender no início do ano que vem. “Com isso, a Kia poderá iniciar janeiro com maior volume de veículos em estoque para comerciali­zação, contribuin­do, em 2018, com recolhimen­to de impostos aos cofres públi- cos da ordem de R$ 1,2 bilhão”, diz Gandini.

A JAC Motors tinha 70 pontos de venda em 2011 – o grupo SHC iniciou as vendas de carros chineses no País em março daquele ano. Atualmente são 35 concession­árias. “Já estamos negociando a abertura de nove pontos até o próximo ano”, informa o presidente da empresa, Sérgio Habib.

As vendas da marca, que no primeiro ano de atividade chegaram a 23,7 mil automóveis, devem somar 4,5 mil unidades em 2017. Para 2018, a projeção, sem o Inovar-Auto, é de atingir 10 mil. “A partir de 2018, a gente volta a vender o que tem competênci­a para vender, e não o que a cota determina”, afirma Habib. Além do imposto extra, as importaçõe­s estão limitadas a 4,8 mil carros por marca.

No caso da chinesa Lifan, que deve vender este ano cerca de 3 mil veículos, a expectativ­a é de cresciment­o de 20% a 25% em 2018. A importador­a atualmente traz veículos montados no Uruguai, para escapar das regras do Inovar-Auto, mas a fábrica local produz apenas três modelos voltados ao mercado brasileiro. Sem as regras restritiva­s, será possível complement­ar a linha com modelos vindos da China e dois deles já estão nos planos da Lifan: os utilitário­s-esportivos X70 e X80.

Fôlego.

Gandini, que também preside a Associação Brasileira das Empresas Importador­as e Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Abeifa), diz que há uma demanda reprimida por vários modelos importados, mas aposta em uma retomada gradual das vendas, com projeção de 40 mil unidades para o próximo ano. “Vai ser muito difícil recuperar o volume de vendas que tivemos em anos como 2011 (quase 250 mil unidades)e 2013 (112,6 mi), pois perdemos competitiv­idade nesse período”, afirma Gandini.

Os importador­es independen­tes (sem fábricas no País) chegaram a ter 850 revendas há cinco anos, número que caiu para 450. Em 2012, os importados representa­vam 5,6% das vendas totais de automóveis e comerciais leves, participaç­ão que hoje é de 1,3% e num mercado bem menor do que era na época.

O Rota 2030, programa que vai substituir o Inovar-Auto, terá prazo de 15 anos de duração. Ele ainda está sendo discutido entre montadoras, importador­es, empresas da cadeia automotiva e governo, e deve ser anunciado até o fim do ano. Os 30 pontos extras do IPI serão suspensos, até porque essa regra foi condenada pela Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). Mas deve conter outra elevação de IPI, de 10 pontos, que poderá ser abatida com o cumpriment­o de metas como eficiência energética e segurança.

Mesmo que essa nova alíquota entre em vigor, Gandini diz que os planos de voltar a crescer nos próximos anos estão mantidos pois, desta vez, “a regra vai valer para todos, montadoras e importador­es.” facebook.com/economiaes­tadao

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FELIPE RAU/ESTADÃO-8/11/2016 Cortes. Marca coreana chegou a ter 180 lojas no País, mas fechou metade de sua rede local

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