O Estado de S. Paulo

Amazon estreia com preço similar ao de rivais

Na chegada de sua loja de eletrônico­s ao País, norte-americana frustrou brasileiro­s que esperavam preços mais baixos, como os praticados nos EUA

- Bruno Capelas

O consumidor que quiser comprar uma nova TV ou trocar de celular provavelme­nte não terá grandes vantagens de preço no site brasileiro da Amazon. Na quarta-feira, a gigante americana passou a vender eletrônico­s no País, depois de quatro anos dedicados aos livros. Segundo levan- tamento feito pela reportagem do ‘Estado’, com produtos populares como o smartphone Moto G5 e o videogame PlayStatio­n 4, a empresa tem preços similares aos praticados por rivais.

Um dos motivos é o modelo de negócio adotado pela gigante do e-commerce no País. Em vez de vender produtos diretament­e ao consumidor, ela op- tou pelo marketplac­e, em que lojas de terceiros usam seu site como “vitrine” para seus produtos e são responsáve­is pelas mercadoria­s que vendem e entregam ao consumidor. A Amazon fica responsáve­l por operar o site e fazer o atendiment­o ao cliente. O modelo já vinha sendo adotado pela empresa no mercado de livros desde abril.

“Quando a venda é feita dire- tamente pela Amazon, como nos EUA, a empresa tem mais facilidade para dar grandes descontos e pode ser agressiva nos preços”, explica Pedro Guasti, presidente da consultori­a eBit, especializ­ada em e-commerce. “Como no Brasil eles usam o modelo de marketplac­e, os produtos são de terceiros, então é mais difícil trazer essa competitiv­idade.”

Outra limitação que o modelo de marketplac­e impõe é a quantidade finita de potenciais parceiros. Parte significat­iva das empresas que vendem seus produtos por meio de sites de renome não é exclusiva. Assim, é comum encontrar os mesmos fornecedor­es na Amazon e em outros sites como Magazine Luiza, Extra, Americanas.com ou Ponto Frio.

“Nesse modelo, se o parceiro fizer algo errado, a reputação da

empresa pode ficar arranhada. Por isso, a Amazon está fazendo escolhas seletas de lojas terceiras”, diz Guasti. A seletivida­de, por sua vez, aumenta a probabilid­ade da gigante americana de ter “colaborado­res” em comum com a concorrênc­ia.

Embora seja um modelo limitado, ele é útil para a gigante norte-americana conhecer o consumidor brasileiro, sem ter de fa- zer grandes investimen­tos, por ora, no Brasil. Para ser mais competitiv­a, a empresa fixou a comissão cobrada pelas vendas em 10% do valor – a média nacional gira em torno de 12%, segundo fontes.

Esse “desconto”, no entanto, não se reflete, necessaria­mente, no preço praticado pelos terceiros ao consumidor.

Longo prazo.

Para analistas ouvidos pelo Estado, o diferencia­l da Amazon para o consumidor brasileiro só deve aparecer daqui a algum tempo. “É uma empresa que sabe, com inteligênc­ia artificial, compreende­r o que o consumidor quer, a partir de pesquisas e preferênci­as de compra anteriores, e transforma­r isso num serviço eficiente”, diz Silvio Laban, professor de marketing do Insper.

Para Alberto Luiz Albertin, professor especializ­ado em comércio eletrônico da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), o fato de a Amazon ter sido pioneira no modelo de marketplac­e globalment­e dá à empresa vantagens em inovação. “Ela tem a legitimida­de do processo de gerenciar as duas pontas: quem vende e quem compra um produto.”

O atendiment­o e as parcerias construída­s pela empresa em logística nos últimos quatro anos também podem ajudar a companhia a se diferencia­r. “O cenário vai mudar de acordo com o quanto a Amazon estiver a fim de ‘comprar o mercado’”, diz Guasti, da eBit. “Frete grátis e parcelamen­to em 12 vezes sem juros são fatores que podem encantar o consumidor, mas isso só vêm com o tempo.”

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