O Estado de S. Paulo

Conversa com os pais evita consumo precoce de álcool

Participaç­ão dos pais é determinan­te para retardar a primeira experiênci­a dos jovens com bebidas

- Gabriely Araújo ESPECIAL PARA O ESTADO

Oss efeitos do álcool do organismo são conhecidos, e os riscos provocados pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas também. No entanto, eles não são suficiente­s para inibir a iniciação etílica precoce. O primeiro contato dos adolescent­es com as bebidas alcoólicas acontece cada vez mais cedo. E, segundo estudos e especialis­tas, a família tem responsabi­lidade nesse cenário.

“Muitos pais acham que devem ensinar ao filho beber em casa. Estudos comprovam, no entanto, que a dependênci­a é maior quando a introdução ao uso é feita mais cedo”, afirma a biomédica Erica Siu, coordenado­ra do CISA, Centro de Informaçõe­s Sobre Saúde e Álcool.

O incentivo a atividades como esportes e a música foi o recurso adotado pela gerente comercial Carolina Tanasi, 34 anos, com o filho Carlos Henrique Tanasi, de 15 anos. Eles conversam sobre o consumo de álcool desde que Carlos tinha nove anos. “Meu pai era alcoólatra, faleceu aos 35 anos, quando eu tinha 12”, conta Carolina. Ela afirma que o exemplo do pai ajudou-a a dialogar com o filho. Aluno do primeiro ano do ensino médio, Carlos passa a maior parte do tempo dedicados aos estudos da flauta transversa­l e faz aula de música três vezes na semana. Ele também gosta de sair com os amigos, especialme­nte para ir ao parque do Ibirapuera, em São Paulo, mas afirma que costuma alertá-los sobre os males do álcool. “Eu mesmo nunca vi outros amigos ficando bêbados, mas já ouvi conversand­o com eles, ouvi que já ficaram”.

Cenário. No Brasil, o contato dos adolescent­es com o álcool começa antes do ingresso no ensino médio. A última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) 2015, lançada no final do ano passado pelo Ministério da Educação (MEC), aponta que 55% dos entrevista­dos - mais de 2 milhões de alunos do 9º ano do ensino fundamenta­l das redes pública e privada do País -, respondera­m positivame­nte sobre o consumo de bebida alcoólicas.

Um outro importante estudo sobre o tema, publicado em março pelo jornal científico Addiction, mapeou e analisou 12 fatores de parentalid­ade associados à experiment­ação precoce do álcool. Entre os fatores de risco identifica­dos está a quantidade de bebidas consumida em casa pelos pais. Em contrapart­ida, o levantamen­to também mostra que a própria família tem o poder de evitar que os adolescent­es tenham um contato prematuro com as bebidas dialogando sobre o assunto e monitorand­o as atividades dos jovens. “O uso costuma começar por volta dos 11, 13 anos. Os primeiro diálogos devem ser antes disso”, recomenda Erica.

Durante o Bate-Papo Lado A Lado B o médico Maurício Lima Souza ressaltou a importânci­a de abrir o espaço de discussão. “Ser proibitivo não adianta nada. Jovem precisa de bons exemplos. E eles podem começar em casa.”

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Pais de Carlos Henrique não consomem bebidas alcoólicas na frente do filho para não dar mau exemplo
O Ã D A T S E / A V L I S X E L A Exemplo. Pais de Carlos Henrique não consomem bebidas alcoólicas na frente do filho para não dar mau exemplo

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